Foto retirada daqui |
Uma das mudanças introduzidas pelo Concílio Vaticano II foi a possibilidade
de se celebrar na própria língua. Uma reforma que se tornou efetiva ainda antes
do encerramento dos seus trabalhos, a 8 de dezembro de 1965. Uns meses antes, a
7 de março desse ano, Paulo VI celebrava a primeira missa em italiano.
Este sábado, o Papa Francisco presidiu à eucaristia na mesma igreja, em
Roma, onde há cinquenta anos o seu antecessor inaugurava essa prática que rapidamente
se estendeu a todo o mundo. Em Portugal o primeiro missal em português é
publicado no final desse ano, com autorização eclesiástica dada a 22 de agosto.
Com a tradução da liturgia para a língua própria de cada comunidade, a
compreensão do que se celebrava deixou de ser exclusiva do clero e de mais
alguns que sabiam latim. Foi dada a possibilidade aos fiéis de entenderem o que
se celebra, em vez de assistirem a um espetáculo sacro numa linguagem estranha.
Contudo, cinquenta anos depois dessa alteração, para muitos a missa
continua a ser algo a que se assiste, ainda incompreensível e, apesar de ser no
seu idioma, é quase como se fosse em latim. Ainda muito há a fazer para
corrigir uma atitude passiva que cinco séculos de missas tridentinas incutiram nos
fiéis.
Entretanto, também não desapareceram os saudosistas dos tempos em que o
padre celebrava de costas para o povo. Em que só a ele era permitido recitar a
oração que o Senhor nos ensinou: o Pai-nosso. Conseguiram, mesmo, que Bento
XVI, em 2007, lhes concedesse a possibilidade de voltarem a assistir à missa
tridentina. São os que continuam a considerar o latim como o mais adequado para
os textos litúrgicos, conferindo-lhe mesmo uma auréola de língua sacra. Esquecem-se
que Jesus não falou nem latim, nem grego, nem sequer hebraico. Utilizava a
língua do povo: o aramaico.
Se Jesus se esforçou para falar uma linguagem que
todos entendessem, então a Igreja deve fazer esse mesmo esforço. O Vaticano II
deu um passo significativo, há cinquenta anos, para tornar mais acessível a sua
liturgia e a sua pregação. Ora, é uma incumbência de todos, sobretudo os que
presidem às celebrações, dar continuidade a este desígnio do concílio. E
estimular nas comunidades uma participação mais ativa na liturgia e na vida da
Igreja.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 13/03/2015)
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar