sexta-feira, 13 de março de 2015

Missa na própria língua

Foto retirada daqui
Uma das mudanças introduzidas pelo Concílio Vaticano II foi a possibilidade de se celebrar na própria língua. Uma reforma que se tornou efetiva ainda antes do encerramento dos seus trabalhos, a 8 de dezembro de 1965. Uns meses antes, a 7 de março desse ano, Paulo VI celebrava a primeira missa em italiano.

Este sábado, o Papa Francisco presidiu à eucaristia na mesma igreja, em Roma, onde há cinquenta anos o seu antecessor inaugurava essa prática que rapidamente se estendeu a todo o mundo. Em Portugal o primeiro missal em português é publicado no final desse ano, com autorização eclesiástica dada a 22 de agosto.

Com a tradução da liturgia para a língua própria de cada comunidade, a compreensão do que se celebrava deixou de ser exclusiva do clero e de mais alguns que sabiam latim. Foi dada a possibilidade aos fiéis de entenderem o que se celebra, em vez de assistirem a um espetáculo sacro numa linguagem estranha.

Contudo, cinquenta anos depois dessa alteração, para muitos a missa continua a ser algo a que se assiste, ainda incompreensível e, apesar de ser no seu idioma, é quase como se fosse em latim. Ainda muito há a fazer para corrigir uma atitude passiva que cinco séculos de missas tridentinas incutiram nos fiéis.

Entretanto, também não desapareceram os saudosistas dos tempos em que o padre celebrava de costas para o povo. Em que só a ele era permitido recitar a oração que o Senhor nos ensinou: o Pai-nosso. Conseguiram, mesmo, que Bento XVI, em 2007, lhes concedesse a possibilidade de voltarem a assistir à missa tridentina. São os que continuam a considerar o latim como o mais adequado para os textos litúrgicos, conferindo-lhe mesmo uma auréola de língua sacra. Esquecem-se que Jesus não falou nem latim, nem grego, nem sequer hebraico. Utilizava a língua do povo: o aramaico.

Se Jesus se esforçou para falar uma linguagem que todos entendessem, então a Igreja deve fazer esse mesmo esforço. O Vaticano II deu um passo significativo, há cinquenta anos, para tornar mais acessível a sua liturgia e a sua pregação. Ora, é uma incumbência de todos, sobretudo os que presidem às celebrações, dar continuidade a este desígnio do concílio. E estimular nas comunidades uma participação mais ativa na liturgia e na vida da Igreja.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 13/03/2015)

1 comentário: