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O Vaticano II permitiu que a liturgia da
Igreja pudesse ser celebrada na língua de cada povo e cultura. Essa foi a
reforma conciliar que mais rapidamente se tornou efetiva, ainda antes de estar
concluído. Foi um sinal claro do desejo de dialogar com o mundo na sua língua.
O Papa Francisco quer que a Igreja, depois de ter “aprendido” a falar o
vernáculo agora aprofunde a experiência e a linguagem da misericórdia.
Logo no primeiro Angelus a que presidiu,
quatro dias depois de ser eleito, falou da misericórdia, como a palavra que “muda
o mundo”. Na mensagem para esta Quaresma expressou o desejo de que as
comunidades católicas se tornassem “ilhas de misericórdia no meio do mar da
indiferença”.
No dia em que se completaram dois anos do seu
pontificado proclamou um Ano Santo dedicado a essa temática, para comemorar os
cinquenta anos do Vaticano II. De acordo com o comunicado de imprensa da Santa
Sé, ao iniciar-se no dia em que se encerrou o concílio, o próximo dia 8 de
dezembro, “adquire um significado particular, impelindo a Igreja a continuar a
obra começada com o Vaticano II”.
Para o diretor do sítio “Religión Digital”, José
Manuel Vidal, o Papa está a “descongelar” o concílio e “como alguns, na Cúria e
nos círculos mais conservadores, lhe continuam a pôr areia na engrenagem das
suas reformas, Bergoglio convoca as massas e põe a sua primavera nas mãos das
ondas de peregrinos que chegarão a Roma durante o Jubileu”.
Alguns, mesmo entre nós, defendem que já não
basta “descongelar” o Vaticano II, impõe-se convocar um novo concílio. Para o
Papa parece que basta tornar efetiva a reforma conciliar, que não pode ficar-se
pela introdução do vernáculo na liturgia, mas ir muito além.
Seja através de um novo concílio ou pelo
aprofundamento do caminho iniciado há cinquenta anos, o que parece evidente é
que a Igreja precisa de continuar a abrir-se ao mundo, como desejava João XXIII
e de sair de si como tem proposto o atual Papa. Que prefere “uma Igreja
acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja
enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”, como
escrevia na Evangelii Gaudium”. Este é mais um passo para ir ao encontro das
“periferias geográficas e existenciais”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/03/2015)
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