Papa na Calábria Foto retirada daqui |
O
Papa Francisco foi corajoso ao proferir palavras duras contra a máfia e os
mafiosos na visita à diocese calabresa de Cassano all’Jonio, no sul de Itália,
no passado sábado. Afirmou: “A 'Ndrangheta’ [máfia calabresa] é isto: adoração
do mal e desprezo pelo bem comum”. E concluiu: “Aqueles que na sua vida seguem
o caminho do mal, como são os mafiosos, não estão em comunhão com Deus: estão
excomungados”. São palavras fortes e constituem a crítica mais contundente de
um Papa a esta organização criminosa.
João Paulo II, a 9 de maio de 1993, em Agrigento, na Sicília, atreveu-se a dizer aos mafiosos: “Arrependei-vos, virá o juízo de Deus”. Meses depois foi assassinado em Palermo o padre Pino Puglisi, um sacerdote que se dedicava à prevenção da toxicodependência e da delinquência juvenil. Para Alessandra Dino, professora da Universidade de Palermo, tratou-se de “uma vingança, uma resposta direta a João Paulo II” da máfia siciliana. A Igreja considera Pino Puglisi o primeiro mártir da “Cosa Nostra” e foi beatificado a 25 de maio do ano passado.
João Paulo II, a 9 de maio de 1993, em Agrigento, na Sicília, atreveu-se a dizer aos mafiosos: “Arrependei-vos, virá o juízo de Deus”. Meses depois foi assassinado em Palermo o padre Pino Puglisi, um sacerdote que se dedicava à prevenção da toxicodependência e da delinquência juvenil. Para Alessandra Dino, professora da Universidade de Palermo, tratou-se de “uma vingança, uma resposta direta a João Paulo II” da máfia siciliana. A Igreja considera Pino Puglisi o primeiro mártir da “Cosa Nostra” e foi beatificado a 25 de maio do ano passado.
Desde
a sua morte, “o compromisso antimáfia da cúpula eclesiástica pareceu
enfraquecer-se, delegando tudo aos padres definidos como ‘de fronteira’ ou ‘de
rua’, de acordo com a moda jornalística” escreveu há dias Roberto Saviano,
jornalista perseguido pela 'Ndrangheta, no jornal “La Repubblica”. Alessandra
Dino, que tem estudado a relação entre a Igreja e a máfia, identificou mesmo
alguma condescendência dos párocos sicilianos para com os mafiosos, os quais,
de acordo com a sua pesquisa em Palermo, chegam a considerar alguns como
“homens de honra”.
O
bispo de Cassano all’Jonio, nomeado pelo Papa Francisco secretário da
Conferência Episcopal Italiana, quer corrigir essa atitude no clero da sua
diocese e garante que “a Igreja calabresa sente-se parte do despertar das
consciências contra o crime organizado”, porque “o crime organizado alimenta-se
de consciências adormecidas”.
Apesar
de o crime organizado não ter em Portugal a dimensão italiana, não faltam “mafiazinhas”
que pervertem regras e prejudicam quem não lhes pertence. Seria bom que a
Igreja portuguesa não se acobardasse perante elas e contribuísse para acordar
as consciências.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 27/06/2014)