domingo, 1 de junho de 2014

Diplomacia papal

Logo da Peregrinação do Papa à Terra Santa
retirado da página do Vaticano
A questão do celibato quase relegou para segundo plano a importância da viagem do Papa Francisco à Terra Santa na comemoração dos cinquenta anos do encontro em Jerusalém entre o Paulo VI e o Patriarca Atenágoras.

Em relação a essa temática o Papa limitou-se a repetir que não se trata de uma questão teológica, mas meramente disciplinar. E recordou algo que muitos continuam a desconhecer: que a Igreja Católica já tem padres casados, no Rito Oriental. Por isso não constituirá um grande problema estender essa disciplina ao catolicismo ocidental, de Rito Latino. Contudo, não parece estar para breve essa alteração, pois Francisco continua a valorizar o testemunho do celibato e não o considera uma questão decisiva para a vida da Igreja. “Temos coisas mais importantes a abordar”, disse o Papa aos jornalistas no voo de regresso a Roma. E recentrou o debate em algo que o preocupa muito mais: a unidade da Igreja.

A paz entre os povos do Médio Oriente, o diálogo inter-religioso e a reconciliação entre as igrejas cristãs foram as grandes questões abordadas pelo Papa, não só por palavras, mas, sobretudo, por gestos muito significativos. Nestes destacam-se os momentos de oração silenciosa junto do muro que separa a Palestina de Israel, no Muro das Lamentações e na visita ao memorial dedicado às vítimas do holocausto de Yad Vashem, onde beijou as mãos de alguns sobreviventes da perseguição nazi.

Em apenas três dias o Papa “desativou as minas do ódio multisecular da divisão e do receio, para semear sobre elas as rosas do diálogo, da reconciliação, da unidade, da paz e da esperança. Para fora e para dentro da Igreja”. Esta é a avaliação que José Manuel Vidal, diretor do sítio religioso “Religión Digital”, faz da viagem papal.

Nesta deslocação à Terra Santa o Papa Francisco demonstrou a sua habilidade na abordagem de questões sensíveis, como a conturbada convivência entre os povos do Médio Oriente ou o diálogo com a Igreja Ortodoxa – e recuperou para o papado e para o Vaticano um papel destacado na cena diplomática mundial. “Francisco tem essa capacidade de tocar a tecla apropriada em todos os momentos, que torna fácil o difícil”, conclui José Manuel Vidal.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 30/05/2014)

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