domingo, 22 de junho de 2014

O fazedor de pontes

O abraço junto ao Muro das Lamentações
Foto retirada daqui
O Papa apresentou-se ao mundo como Bispo de Roma e parece preferir esse título a outros, que a história foi atribuindo a essa função na Igreja, como o de Sumo Pontífice. Porém, o exercício do ministério petrino que o cardeal Bergoglio tem vindo a desempenhar está a tornar-se num verdadeiro pontificado, não no sentido tradicional do tema mas no sentido originário.

A palavra pontífice tem a sua origem etimológica nos termos latinos pons facere. É, portanto, um fazedor de pontes, literalmente. Atribuído ao Papa entende-se como aquele que faz a ponte entre os homens e Deus. Precedido do qualificativo Sumo, é mesmo considerado o mais elevado, mais excelso construtor de pontes.
O Papa Francisco não se limita a fazer a ponte entre Deus e os homens, mas preocupa-se também com os muros que dividem a humanidade, a começar pelos que têm a sua origem nas convicções religiosas.

Numa recente entrevista ele confidenciou que rejeitou o papa-móvel, com vidros à prova de bala, por detestar todas as barreiras, mesmo as que são colocadas para sua segurança, mas que o impedem de contactar com as pessoas. Nessa mesma entrevista referiu que na Argentina é normal a convivência entre emigrantes originários de diferentes países, culturas e religiões. Daí a sua amizade com o judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar Abboud, que se abraçaram junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. Um desejo antigo de todos e uma bela parábola das pontes que é preciso construir entre as três religiões

Francisco tem-se destacado como Sumo Pontífice, ou seja, altíssimo mediador dessa reconciliação que não é bem vista pelos fundamentalistas de todas as três religiões, presentes também entre os católicos. Basta consultar a Internet para tropeçar em inúmeras críticas à atitude tolerante e conciliadora do Papa. Contrariamente ao que se possa pensar, não quer, contudo, uma uniformização das diferentes e peculiares identidades de cada pessoa, crença ou cultura, o que ele denomina de má globalização. Propõe, isso sim, uma sadia globalização, em que as especificidades de cada um não ponham em causa o bom entendimento entre todos. Tal como acontece no seu relacionamento com os seus amigos judeu e muçulmano.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/06/2014)

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