O abraço junto ao Muro das Lamentações Foto retirada daqui |
O Papa apresentou-se ao mundo como Bispo de Roma e parece
preferir esse título a outros, que a história foi atribuindo a essa função na
Igreja, como o de Sumo Pontífice. Porém, o exercício do ministério petrino que
o cardeal Bergoglio tem vindo a desempenhar está a tornar-se num verdadeiro
pontificado, não no sentido tradicional do tema mas no sentido originário.
A palavra pontífice tem a sua origem etimológica nos
termos latinos pons facere. É, portanto, um fazedor de pontes,
literalmente. Atribuído ao Papa entende-se como aquele que faz a ponte entre os
homens e Deus. Precedido do qualificativo Sumo, é mesmo considerado o mais
elevado, mais excelso construtor de pontes.
O Papa Francisco não se limita a fazer a ponte entre Deus
e os homens, mas preocupa-se também com os muros que dividem a humanidade, a
começar pelos que têm a sua origem nas convicções religiosas.
Numa recente entrevista ele confidenciou que rejeitou o papa-móvel, com vidros à prova de bala, por detestar todas as barreiras, mesmo
as que são colocadas para sua segurança, mas que o impedem de contactar com as
pessoas. Nessa mesma entrevista referiu que na Argentina é normal a convivência
entre emigrantes originários de diferentes países, culturas e religiões. Daí a
sua amizade com o judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar Abboud, que se abraçaram
junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. Um desejo antigo de todos e uma
bela parábola das pontes que é preciso construir entre as três religiões
Francisco tem-se destacado como Sumo Pontífice, ou seja,
altíssimo mediador dessa reconciliação que não é bem vista pelos
fundamentalistas de todas as três religiões, presentes também entre os católicos.
Basta consultar a Internet para tropeçar em inúmeras críticas à atitude tolerante
e conciliadora do Papa. Contrariamente ao que se possa pensar, não quer,
contudo, uma uniformização das diferentes e peculiares identidades de cada
pessoa, crença ou cultura, o que ele denomina de má globalização. Propõe, isso
sim, uma sadia globalização, em que as especificidades de cada um não ponham em
causa o bom entendimento entre todos. Tal como acontece no seu relacionamento
com os seus amigos judeu e muçulmano.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/06/2014)
(Texto publicado no Correio da Manhã de 20/06/2014)
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