Mastroianni e Loren no filme cómico de 1971 "La moglie del
prete" Foto retirada do sítio do Vatican Insider |
Vinte e seis
mulheres escreveram ao Papa a pedir a revisão da disciplina do celibato,
disponibilizando-se para transmitirem em viva voz as suas histórias de amor com
sacerdotes, algumas assumidas, outras clandestinas. Esta iniciativa, para além
de relançar o tema, demonstra como o Papa gerou um ambiente de abertura e de
diálogo, de tal forma que as pessoas não têm receio em lhe expor as suas ideias
e acalentam a esperança de serem por ele recebidas e escutadas.
O Papa
Francisco tem-se referido esporadicamente a esta questão, mas ainda não
clarificou a sua posição. Contudo, é conhecido o pensamento do cardeal
Bergoglio. Nos diálogos com o rabino Skorka, abordou o tema sublinhando que esta
não é uma questão de fé, mas de disciplina – e que, por isso, pode ser mudada.
Dizia porém: “Para já, sou a favor de que se mantenha o celibato, com os prós e
os contras que ele tem, porque são dez séculos de boas experiências mais do que
de más”.
Em relação
aos relacionamentos dos sacerdotes que teve de gerir, nunca alinhou com
situações dúbias ou escondidas. “Se um deles me aparecer a dizer que engravidou
uma mulher, ouço-o, procuro transmitir-lhe paz e, aos poucos, faço-o perceber
que o direito natural é anterior ao seu direito como padre. Portanto, tem de
abandonar o ministério e tomar conta daquele filho, […] porque, tal como aquela
criança tem direito a ter uma mãe, também tem direito a conhecer o rosto de um
pai”.
O teólogo
Vito Mancuso, num artigo publicado no jornal “La Repubblica”, defende que “chegou
o momento de integrar as experiências dos dois milénios anteriores e de fazer
com que aqueles padres que vivem histórias de amor clandestinas (que serão bem
mais de 26...) possam ter a possibilidade de sair à luz do sol, continuando a
servir as comunidades eclesiais às quais eles vincularam as suas vidas”. O
exercício do ministério presbiteral sairá a ganhar com isso e, afirma Mancuso,
“muitos milhares de padres que deixaram o ministério por amor a uma mulher poderiam
voltar a dedicar a vida à missão presbiteral”.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 23/05/2014)