domingo, 11 de maio de 2014

Jesuítas ao leme

Lombardi e Spadaro, os jesuítas que controlarão a comunicação do Papa
Foto retirada daqui
Aos poucos o Papa vai introduzindo as suas reformas na pesadíssima máquina do governo da Santa Sé. Esta semana deu mais um passo na credibilização do Instituto das Obras Religiosas (IOR), o banco do Vaticano, com a elaboração da “lista negra” de pessoas e instituições a quem foram congelados os bens por suspeitas de ligações à criminalidade internacional ou ao terrorismo.

Também a estratégia da comunicação tem vindo a mudar com o Papa Francisco e está para sofrer uma profunda reestruturação.

Antes, toda a comunicação do Papa era acompanhada de perto pela Secretaria de Estado – uma espécie de Ministério dos Negócios Estrangeiros – que geria a sua agenda e procurava controlar tudo o que ele dizia. O Papa Francisco passou a ter duas agendas. De manhã segue a que a Secretaria de Estado continua a determinar e, à tarde, recebe em Santa Marta as pessoas que entende, por vezes fora do controlo dos diplomatas do Vaticano.

Com Bento XVI o Pe. Lombardi, porta-voz da Santa Sé, coordenava as suas declarações com a Secretaria de Estado. O Papa Francisco confirmou nessas funções o mesmo sacerdote, mas passou a combinar tudo diretamente com ele. Não é de estranhar que assim seja, uma vez que ambos são jesuítas e já se conheciam bem antes de o cardeal Bergoglio assumir a cadeira de Pedro. Entretanto, na sequência do estudo elaborado pela consultora McKinsey para a reforma da Cúria, o Papa vai encarregar o Pe. Lombardi de coordenar todos os órgãos de comunicação do Vaticano. António Spadaro, um outro padre jesuíta, a quem deu a primeira entrevista, vai substitui-lo como porta-voz e diretor da Sala de Imprensa.

Toda a política comunicativa da Santa Sé passa, assim, a ser controlada por dois jesuítas, uma opção que não é consensual no interior da Cúria e que tem sido muito criticada, segundo o diário italiano “Il Fatto Quotidiano”, sobretudo por aqueles que antes a controlavam.

Independentemente das pessoas ou da congregação a que pertencem, é importante que todos desempenhem bem as missões que lhes são confiadas. E é crucial que ajudem outros setores da Igreja a desenhar estratégias de comunicação melhor coordenadas, mais ajustadas à lógica mediática e, por isso mesmo, mais eficazes.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 09/05/2014)

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