Imagem retirada do site News.va |
“Não há vida como a de padre” é uma expressão que dá
conta de uma conceção popular do pároco, sobretudo em ambiente rural:
acomodado, sem as preocupações habituais das pessoas comuns, tais como o
emprego, a educação dos filhos ou a subsistência da família. “Telha de igreja
sempre goteja”, é um outro dito popular que traduz a dada como adquirida
tranquilidade clerical, de quem terá sempre o seu “rendimento mínimo garantido”.
Não é essa a perspetiva do Papa Francisco. Ele que não
quer sacerdotes instalados. De tal forma que, ainda no domingo passado, apelou
aos cristãos para que “importunem” os seus pastores. “Não os deixeis em paz!
Constringi-os a estarem vigilantes, a não se fecharem nas suas ocupações,
porventura burocráticas, (…) a serem vossos guias doutrinais e da graça”,
disse.
Não é fácil ser pastor das comunidades católicas na “Era
Francisco”! Mas é seguramente muito mais gratificante sentir que se tem uma influência
positiva na vida das pessoas, como seu guia espiritual, do que viver absorvido
em vãs tarefas administrativas ou obcecado pelas preocupações que o Papa
classifica como os principais pecados clericais: a vaidade, o apego ao dinheiro
e a sede de poder.
A vaidade e a vanidade dos que se acham superiores ao seu
povo, que se entendem como uma casta sacerdotal, e o “amor ao dinheiro”, são
dois pecados que “o povo não perdoa ao seu pastor”, disse recentemente num
encontro com seminaristas romanos.
O carreirismo clerical tem sido frequentemente criticado
pelo Papa, em linha com Bento XVI, que também o condenou por diversas vezes.
Numa das suas últimas homilias na Casa de Santa Marta chegou mesmo a reconhecer
que “na Igreja há trepadores”! Recomendou-lhes que façam alpinismo, já que
gostam tanto de escalar, mas não venham para “a Igreja trepar”! E advertiu que
“Jesus repreendeu estes trepadores que procuram o poder.”
Seria bom que as montanhas ganhassem novos alpinistas e que
a Igreja se libertasse desses “trepadores” que procuram o poder pelo poder. E
seria bom, também, que os fiéis deixassem de olhar para os sacerdotes como meros
funcionários do sagrado, a quem se recorre para determinados serviços, e encontrassem
neles os guias espirituais de que necessitam.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 16/05/2014)
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