sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“Alô, sou o Papa…”

Sucedem-se os relatos de pessoas surpreendidas por um telefonema do Papa. No último domingo, o Papa Francisco telefonou a uma mulher argentina, vítima de violação, e à mãe de um empresário italiano assassinado. Na quarta-feira anterior, tinha chamado um jovem estudante de Pádua que lhe tinha enviado uma carta através de um cardeal.

Parece que é normal ele ligar, diretamente, a jornalistas que conhece pessoalmente, ou a amigos quando têm alguém doente ou fazem anos. Foi noticiada uma chamada a um sacerdote argentino para felicitá-lo pelo seu aniversário, no início de Abril. Apenas dois dias após a sua eleição, surpreendeu o porteiro da Cúria Geral dos jesuítas, identificando-se como o Papa e pedindo para falar com o Superior Geral. No dia da Missa Inaugural do seu Ministério, dia 19 de Março, telefonou aos fiéis reunidos em Vigília de Oração, na Praça de Maio, em Buenos Aires, e a Bento XVI, felicitando-o pelo seu onomástico, S. José.

Mesmo para tratar de assuntos mais comezinhos, não pede a ninguém que o faça. Prefere fazê-lo ele mesmo. No dia anterior à sua tomada de posse telefonou ao dono do quiosque em Buenos Aires onde comprava os jornais, todos os dias, para cancelar a reserva. No início de Abril, foi o seu sapateiro de há 40 anos que foi surpreendido por uma chamada papal, para lhe encomendar sapatos.

Todos estes telefonemas papais, como tantos outros gestos, revelam a humanidade que carateriza Jorge Mario Bergoglio e que ele não perdeu ao assumir a responsabilidade de liderar a Igreja Católica. Como não tinha perdido ao ocupar outros cargos relevantes na sua estrutura. Por outro lado, traduzem, em atos concretos, a preocupação que tem manifestado por palavras em quase todos os seus discursos para com as “periferias geográficas e existenciais”.~

Para quem os recebem, para além de inesperados e surpreendentes, são momentos significativos, que transformaram as suas vidas. O estudante contactado pelo Papa, sem revelar o teor da conversa, não esconde a alegria e o ânimo que ele lhe transmitiu. E a mulher argentina violentada reconhece que o diálogo com Bergoglio a fez recuperar a “paz e a fé, e a força para continuar a lutar” pela justiça.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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