sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Igreja e as eleições

O respeito pela autonomia da atividade política em relação aos ditames da religião tem-se consolidado no pensamento oficial da Igreja Católica. Não é, todavia, e infelizmente, respeitado em todas as latitudes e em todos os contextos religiosos. O Papa Francisco, numa entrevista, publicada esta semana no jornal italiano “La Repubblica, afirma claramente que “a política é a primeira das atividades civis e tem um campo próprio de ação que não é o da religião. As instituições políticas são laicas por definição e operam em esferas independentes”.

Contudo, os cristãos devem intervir na política de acordo com os valores em que acreditam e pô-los em prática. Mas, a Igreja deve restringir-se “a expressar e difundir os seus valores”.

A Revolução dos Cravos pôs fim a alguma promiscuidade entre o Estado Novo e a Igreja. No entanto, no pós-25 de Abril, tanto à esquerda como à direita, vários foram os clérigos que continuaram a imiscuir-se na política, assumindo posições político-partidárias. Até há bem pouco tempo, não faltavam exemplos de líderes religiosos que não se coibiam de dar indicações de voto nas vésperas de eleições, desrespeitando mesmo o período de reflexão que as antecede. Felizmente, a Igreja Católica em Portugal nos últimos atos eleitorais tem preferido apelar à participação de todos, respeitando a consciência de cada um.

Nas últimas eleições, os bispos limitaram-se a alertar que a abstenção conduz ao “beco sem saída da desistência de contribuir para melhorar a vida da comunidade”. E sustentaram que “a todo o cidadão pertence oferecer a sua ativa colaboração, especialmente quando é convocado para votar”. Aos “profissionais da política”, os bispos portugueses pedem que se empenhem em exercer a sua atividade com “honestidade, competência e espírito de serviço”.

Em sintonia com o Papa Francisco, os bispos portugueses apelaram para que os cristãos se empenhem ativamente na vida política e trabalhem pelo “bem comum”. O respeito pela laicidade da política exige que a Igreja saiba manter este registo: não se imiscuir nas questões político-partidárias, nem se demitir de denunciar as opções políticas que vão contra os valores que defende.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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