O respeito pela autonomia da atividade
política em relação aos ditames da religião tem-se consolidado no pensamento
oficial da Igreja Católica. Não é, todavia, e infelizmente, respeitado em todas
as latitudes e em todos os contextos religiosos. O Papa Francisco, numa
entrevista, publicada esta semana no jornal italiano “La Repubblica, afirma
claramente que “a política é a primeira das atividades civis e tem um campo
próprio de ação que não é o da religião. As instituições políticas são laicas
por definição e operam em esferas independentes”.
Contudo, os cristãos devem
intervir na política de acordo com os valores em que acreditam e pô-los em
prática. Mas, a Igreja deve restringir-se “a expressar e difundir os seus
valores”.
A Revolução dos Cravos pôs
fim a alguma promiscuidade entre o Estado Novo e a Igreja. No entanto, no pós-25
de Abril, tanto à esquerda como à direita, vários foram os clérigos que
continuaram a imiscuir-se na política, assumindo posições político-partidárias.
Até há bem pouco tempo, não faltavam exemplos de líderes religiosos que não se
coibiam de dar indicações de voto nas vésperas de eleições, desrespeitando
mesmo o período de reflexão que as antecede. Felizmente, a Igreja Católica em
Portugal nos últimos atos eleitorais tem preferido apelar à participação de
todos, respeitando a consciência de cada um.
Nas últimas eleições, os
bispos limitaram-se a alertar que a abstenção conduz ao “beco sem saída da
desistência de contribuir para melhorar a vida da comunidade”. E sustentaram
que “a todo o cidadão pertence oferecer a sua ativa colaboração, especialmente
quando é convocado para votar”. Aos “profissionais da política”, os bispos
portugueses pedem que se empenhem em exercer a sua atividade com “honestidade,
competência e espírito de serviço”.
Em sintonia com o Papa
Francisco, os bispos portugueses apelaram para que os cristãos se empenhem
ativamente na vida política e trabalhem pelo “bem comum”. O respeito pela
laicidade da política exige que a Igreja saiba manter este registo: não se
imiscuir nas questões político-partidárias, nem se demitir de denunciar as
opções políticas que vão contra os valores que defende.
(Texto publicado no Correio da Manhã)
(Texto publicado no Correio da Manhã)
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