O padre Anselmo Borges
provoca as mais variadas reações.
Para uns é uma voz profética
e clarividente; para outros, uma voz incómoda e quase herética. Já, por
diversas vezes, tropecei nas redes sociais em considerações pouco abonatórias sobre
ele. Os que se assustam com a mínima beliscadura à doutrina da Igreja,
evidentemente não suportam as suas reflexões de fronteira, por vezes críticas e
desalinhadas do pensamento oficial. Os que não se conformam a uma aceitação
acrítica das questões da fé são espicaçados, pelas suas posições, a aprofundar
as razões para acreditar. Para uns e outros, não há dúvidas de que é um
provocador.
Provocatória, como o próprio
assumiu, é também a questão: “Deus ainda tem futuro?”. Este foi o mote
escolhido para mais uma edição dos colóquios “Igreja em diálogo”, que
decorreram no fim de semana passado. Para os crentes, colocar desta forma a
questão “terá até um sabor a blasfémia”. Para os não crentes “a pergunta não
tem sentido”, reconhece Anselmo Borges. Esclarece que o que se pretende
verdadeiramente é refletir sobre se “Deus ainda tem futuro na e para a
Humanidade”. Discutir a importância de Deus no contexto de uma sociedade em
crise.
Ao longo do fim de semana, crentes
e não crentes refletiram sobre a relevância da religião e da crença em Deus num
mundo em mudança. Paul Clavier, citado por Anselmo Borges, terá dito que “a
existência de Deus é um assunto demasiado sério para ser confiado
exclusivamente aos crentes”. Com o contributo de todos, entre outras conclusões,
percebeu-se a necessidade de recuperar a religião para resgatar a sociedade
contemporânea. “Se é verdade que o humanismo foi muitas vezes construído em
oposição às religiões, também o é que estas por sua vez podem agora, num mundo
secular desencantado, tornarem-se preciosos garantes de um ideal humanista,
ameaçado por uma mercantilização e tecnicização cegas”, disse o sociólogo Jean-Paul
Willaime, professor na Sorbonne, Paris.
Eu atrever-me-ia a dizer que
necessitamos de ser resgatados da idolatria dos mercados e redescobrir o Deus
que tem no ser humano a sua obra-prima. E que possui, por isso mesmo, uma
dignidade divina inviolável e inegociável.
(Texto publicado no Correio da Manhã)
(Texto publicado no Correio da Manhã)
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