sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Deus tem futuro?

O padre Anselmo Borges provoca as mais variadas reações.

Para uns é uma voz profética e clarividente; para outros, uma voz incómoda e quase herética. Já, por diversas vezes, tropecei nas redes sociais em considerações pouco abonatórias sobre ele. Os que se assustam com a mínima beliscadura à doutrina da Igreja, evidentemente não suportam as suas reflexões de fronteira, por vezes críticas e desalinhadas do pensamento oficial. Os que não se conformam a uma aceitação acrítica das questões da fé são espicaçados, pelas suas posições, a aprofundar as razões para acreditar. Para uns e outros, não há dúvidas de que é um provocador.

Provocatória, como o próprio assumiu, é também a questão: “Deus ainda tem futuro?”. Este foi o mote escolhido para mais uma edição dos colóquios “Igreja em diálogo”, que decorreram no fim de semana passado. Para os crentes, colocar desta forma a questão “terá até um sabor a blasfémia”. Para os não crentes “a pergunta não tem sentido”, reconhece Anselmo Borges. Esclarece que o que se pretende verdadeiramente é refletir sobre se “Deus ainda tem futuro na e para a Humanidade”. Discutir a importância de Deus no contexto de uma sociedade em crise.

Ao longo do fim de semana, crentes e não crentes refletiram sobre a relevância da religião e da crença em Deus num mundo em mudança. Paul Clavier, citado por Anselmo Borges, terá dito que “a existência de Deus é um assunto demasiado sério para ser confiado exclusivamente aos crentes”. Com o contributo de todos, entre outras conclusões, percebeu-se a necessidade de recuperar a religião para resgatar a sociedade contemporânea. “Se é verdade que o humanismo foi muitas vezes construído em oposição às religiões, também o é que estas por sua vez podem agora, num mundo secular desencantado, tornarem-se preciosos garantes de um ideal humanista, ameaçado por uma mercantilização e tecnicização cegas”, disse o sociólogo Jean-Paul Willaime, professor na Sorbonne, Paris.

Eu atrever-me-ia a dizer que necessitamos de ser resgatados da idolatria dos mercados e redescobrir o Deus que tem no ser humano a sua obra-prima. E que possui, por isso mesmo, uma dignidade divina inviolável e inegociável.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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