sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A funcionalização do clero

Um estudo sobre o perfil psicológico do clero católico nos Estados Unidos, revela que os sacerdotes são mais “introvertidos”, menos abertos à mudança e mais preocupados com as estruturas do que com o acolhimento às pessoas, do que há 20 ou 30 anos. O estudo foi conduzido pelo inglês Leslie Francis, um perito em psicologia religiosa, e publicado no último número da revista “Pastoral Psychol”, sob o título: “Psychological Type Profile of Roman Catholic Priests: An Empirical Enquiry in the United States”.

Os autores advertem que a amostra foi muito reduzida e o estudo apura algumas tendências que precisam de ser aprofundadas. Em relação aos dados recolhidos, o perfil psicológico dos padres norte-americanos revela que são pessoas que preferem remeter-se aos templos e menos interessados em estar na “vida pública e social”. Preocupam-se mais com a fidelidade à tradição do que em a reajustar às circunstâncias “das novas gerações”. Parecem mover-se mais pelo dever do que pelo amor. Demonstram menos flexibilidade que no passado. Não pedem nem incentivam a participação dos leigos, que devem submeter-se às suas orientações, metas e objetivos, de forma acrítica.

Não parece um retrato muito favorável dos presbíteros norte-americanos. A não ser para aqueles que gostam de ver os sacerdotes confinados às sacristias, completamente fora da vida pública e longe das questões das suas terras, países e do mundo em geral. Ou para os que os querem reduzir a “funcionários do sagrado”, meros administradores de sacramentos e cumpridores escrupulosos das normas disciplinares da Igreja: “alfândegas da fé”, como lhes chamou o Papa Francisco.

Por esta e outras expressões, bem como pelas suas atitudes, já se percebeu que esse não é o perfil do clero que o Papa pretende. Já por diversas vezes apelou para que se empenhassem em ir ao encontro das pessoas que deambulam nas “periferias existenciais”. Pediu um maior investimento no acolhimento e uma menor preocupação na aplicação da disciplina eclesiástica. Ainda, recentemente, perante os bispos brasileiros, apelou à “criatividade do amor”, que é muito mais profícua do que “a tenacidade, a fadiga, o trabalho, a planificação, a organização”.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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