sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Papa sem férias

O clima quente e abafado de Roma no mês de Agosto faz com que a maioria dos romanos abandone a cidade. Os Papa costumavam ir para Castelgandolfo. Francisco decidiu continuar no Vaticano e não fazer férias, para gáudio dos muitos turistas, que, durante este mês, visitam Roma.

Desde a sua eleição que a Praça de S. Pedro se enche para a audiência geral às quartas e para o Angelus ao domingo. Nem o calor faz diminuir o número dos que acorrem à praça para verem e ouvirem o Papa. Muitos dos que participam nesses encontros têm testemunhado que estão a reaproximar-se da Igreja, atraídos pela lufada de ar fresco que tem representado para a Igreja a eleição do cardeal “vindo do fim do mundo”. O sítio "Vatican Insider" recolheu alguns desses testemunhos no domingo passado, como o de Danilo Zappieri, de 33 anos, que confidencia: “Tinha-me afastado da Igreja, mas este Papa, primeiro, despertou-me curiosidade, pelo seu estilo direto e informal, depois conquistou-me com palavras e gestos de profunda humanidade. Comecei a ler as suas homilias e reencontrei a fé. Em particular, surpreendeu-me comoveu-me quando disse que a redenção é para todos, não só para os crentes”.

Se o despojamento e a simplicidade do Papa têm atraído muitos dos que andavam afastados da Igreja em ambientes mais tradicionalistas e conservadores, começam a notar-se alguns sinais de desconforto. Para além de não aceitarem bem algumas das inovações litúrgicas introduzidas pelo Papa, esperavam que ele fosse mais incisivo na defesa das posições da Igreja em matérias como o aborto, a eutanásia ou a homossexualidade.

Outros sectores começam a demonstrar alguma impaciência com a lentidão na reforma da Cúria Romana. Os que conhecem melhor o percurso do atual bispo de Roma testemunham que ele é determinado nas suas opções, mas não gosta de tomar decisões apressadas. Para o ajudar nas reformas a introduzir, nomeou oito cardeais e, depois de os ouvir, provavelmente depois do mês de Agosto, procederá à remodelação do governo da Igreja e fará as nomeações que se aguardam, a começar pelo Secretário de Estado, uma espécie de primeiro-ministro da Santa Sé. Essa será mais uma razão para não ter ido de férias.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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