Quem acompanhou a visita do Papa ao Brasil lendo os títulos
dos jornais, pode não se ter apercebido da profundidade e do significado para o
futuro da Igreja das palavras e, sobretudo, dos gestos de Jorge Mario
Bergoglio.
Desde a primeira hora, até pela viatura escolhida no
aeroporto, percebeu-se que não se tratava da viagem de um chefe de Estado, ou
do Sumo Pontífice, mas de uma verdadeira visita pastoral do Bispo de Roma aos
seus diocesanos de todo o mundo, congregados nas Jornadas Mundiais da Juventude.
Foi o regresso do cardeal ao contacto próximo com os seus concidadãos. Algo que
privilegiava quando era arcebispo de Buenos Aires, e de que sente saudades,
como confidenciou aos jornalistas no avião. Por isso, exigiu a suavização das
medidas de segurança, para que o pastor pudesse estar no meio das suas ovelhas.
Para o jornalista do “Le Figaro”, Jean-Marie Guénois, a
visita ao Brasil marca o “nascimento” e o descolar de um pontificado. Nos dois
encontros com os bispos o Papa clarificou a sua perspetiva e o seu programa
para a Igreja.
Tornar-se próximo dos que vivem nas “periferias
existenciais” é uma das maiores preocupações do Papa, anterior até à sua
eleição. Aos bispos latino-americanos denunciou que “existem pastorais
‘distantes’, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as
condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem
ternura, nem carinho”.
No encontro com os bispos brasileiros explicou o que entende
por pastoral. “Quero lembrar que ‘pastoral’ nada mais é que o exercício da
maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta,
conduz pela mão... Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as
entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidades
temos hoje de inserir-nos num mundo de ‘feridos’, que têm necessidade de
compreensão, de perdão, de amor”.
É cada vez mais claro que o Papa Francisco está a protagonizar
uma “Revolução da Ternura”, que passa muito mais pelo acolhimento do que pela condenação.
Quer que a Igreja reaprenda a “gramática da simplicidade”. E que, com a
“criatividade do amor”, reinvente o anúncio de Jesus Cristo. Hoje.
(Texto publicado no Correio da Manhã)
(Texto publicado no Correio da Manhã)
Sem comentários:
Enviar um comentário