quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A Igreja na prevenção dos incêndios

Quando a floresta está a arder devem concentrar-se todas as forças no combate aos incêndios. Depois é que se devem retirar as consequências, refletir e planear para prevenir que situações particularmente graves, como as que aconteceram este ano e em anos anteriores, não se voltem a repetir.

Todos sabem que a prevenção é mais eficaz e menos dispendiosa do que o combate às chamas. Contudo, continua-se a negligenciar a floresta e a esquecê-la sempre que ela não arde. Só quando ela é fustigada pelos incêndios e desaparece é que se acorda.

Na encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco foi sensível ao clamor da irmã Terra “contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou” (nº2). Apelou ao envolvimento de todos e deixou-nos sugestões e desafios para nos envolvermos no cuidado da casa comum, o que incluí o património florestal.

Nesta encíclica o antigo Papa insistiu que a natureza não é apenas um recurso para explorar, mas parte de um bem comum que exige proteção e gestão sustentável. Propôs uma educação e consciência ecológicas. A Igreja, segundo Francisco, tem a missão de formar consciências: ensinar comunidades, fiéis e famílias a respeitar o meio ambiente, a usar os recursos com prudência e a prevenir comportamentos de risco.

Sozinha, contudo, a Igreja pouco pode fazer. É chamada a envolver-se num trabalho em rede com a sociedade civil e as autoridades. O seu papel primordial, como já adiantou o Papa Leão XIV, será promover o voluntariado e a solidariedade no interior das comunidades locais.

Perante a tragédia dos incêndios que assolou Portugal, a Igreja nacional é convocada à fidelidade à Laudato Si’. Deve, por isso, delinear e colaborar em iniciativas que corrijam a ausência de gestão das florestas e promovam a prevenção dos incêndios.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Líbano será a primeira viagem de Leão XIV

Leão XIV convocou os católicos para uma jornada de oração e de jejum pela paz na sexta-feira passada. É evidente que os católicos acreditam na força das suas preces dirigidas a Deus pela paz. Contudo, não basta.

A paz é uma das prioridades deste Papa. Logo no início do seu Pontificado, nas primeiras palavras que dirigiu à multidão da varanda de S. Pedro, desejou “uma paz desarmada e uma paz que desarma”. Nesta terça-feira o Vaticano anunciou que o tema da primeira mensagem de Leão XIV para o Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica celebra no primeiro dia de cada ano, será o mesmo: “A paz esteja com todos vós: rumo a uma paz ‘desarmada e desarmante’”.

Entretanto, a BBC noticiou que a Santa Sé está a preparar uma visita de Leão XIV ao Líbano, que será a sua primeira viagem internacional. Tanto João Paulo II como Bento XVI visitaram o Líbano. Curiosamente, esse país não foi visitado por Francisco.

“O Líbano é um país multicultural e multirreligioso e é um lugar de diálogo”, recordou o arcebispo maronita libanês Paul Nabil El-Sayah, em declarações à BBC. “É um dos raros ambientes onde muçulmanos e cristãos vivem juntos e se respeitam”, pelo que, ao escolher este país para a sua primeira viagem apostólica, o Papa “envia uma mensagem para a região”, conclui o arcebispo Sayah.

Dada a proximidade do Líbano com a Faixa de Gaza, é evidente que as palavras do Papa procurarão ter efeito no conflito que envolve Israel e a Palestina. Para tal se verificar, é importante que Leão XIV formule, nas palavras ou nos gestos, algo impactante.

A primeira viagem de um Papa é uma oportunidade única para comunicar o que considera relevante no mundo em que atua, como aconteceu com a ida de Francisco a Lampedusa. Leão XIV saberá aproveitar a visita ao Líbano para defender a paz e promover a reconciliação entre os povos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Leão XIV e a paz no Mundo e na Igreja

É habitual fazer-se a avaliação dos primeiros cem dias de um Governo, de um presidente e até de um Papa. Os cem dias da eleição de Leão XIV ocorreram no passado dia 16.

No dia anterior, um dia muito significativo para a Igreja Católica, no final da oração do angelus, o Papa confiou "à intercessão da Virgem Maria, Assunta ao Céu, a nossa oração pela paz", um tema presente desde o início do seu pontificado. No dia 17, domingo, celebrou a eucaristia e almoçou com cem pessoas em situação de vulnerabilidade social, no Borgo Laudato Si", em Castel Gandolfo. Nesta iniciativa, Leão XIV faz alusão a duas das principais preocupações de Francisco: os pobres e o cuidado da criação.

Os primeiros cem dias de Francisco, com os gestos que teve, as palavras que proferiu e as decisões que tomou, foram um verdadeiro ciclone na Igreja. A escolha do nome que traduz a atenção aos mais pobres; a viagem a Lampedusa para chamar a atenção para o problema da imigração; a nomeação do colégio dos cardeais para o ajudarem no governo da Igreja, entre outras, clarificaram as suas principais preocupações e traduziram o seu ímpeto reformador da instituição que começou a liderar.

Já os primeiros dias do pontificado leonino foram bem mais serenos, em comparação com o seu antecessor. Contudo, deu para perceber que a paz é uma das suas preocupações, bem como dar continuidade a reformas introduzidas por Francisco.

Em tempos em que até a União Europeia tem de se esforçar para ter peso em negociações de paz, não será fácil para o Papa, para além de rezar pela paz, dar relevância diplomática à Santa Sé. Será também uma tarefa árdua pacificar a Igreja, conciliando os que se opõem às reformas projetadas por Francisco com os que são seus acérrimos defensores.

Para o bem da Igreja e do Mundo, deseja-se a Leão sucesso em ambos os esforços.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Na Igreja somos todos estrangeiros

Na Igreja, ou não há estrangeiros, ou somos todos estrangeiros. Não há estrangeiros, porque todos temos a mesma dignidade de filhos de Deus. Pelo batismo "todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus", escreve S. Paulo aos Gálatas (3, 26). "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus", conclui o Apóstolo dos gentios (3, 28).

Por outro lado, todos somos estrangeiros na terra, porque acreditamos num reino outro, aonde somos chamados a viver para sempre. "A nossa pátria está nos céus", diz S. Paulo aos Filipenses (3, 20).

O JN do domingo passado destacava na manchete que os "Padres estrangeiros ganham terreno na Igreja portuguesa". Ainda que não faça sentido do ponto de vista cristão, aceita-se o título do JN no contexto jornalístico que tem marcado a atualidade: a nova lei de estrangeiros.

Seria interessante perceber as motivações que levaram estes padres a escolher o nosso país para desenvolverem a sua atividade pastoral. É louvável quando o fazem motivados por uma vocação missionária, devidamente discernida e orientada para servir a Igreja onde os seus superiores assim o entenderem.

Já quando saem dos seus países por interesses meramente pessoais, à procura de uma situação mais lucrativa, então, em vez de serem uma solução para a escassez de clero, acabam por se tornar, eles próprios, em mais um problema para as dioceses que os acolhem, a somar a tantos outros. Para a falta de clero há outras soluções, como "a ordenação de membros das comunidades com provas dadas", e outras que o pe. Jorge Cunha, professor de Teologia, elencou ao JN.

Acolher padres estrangeiros não deverá ser, por isso, um expediente para resolver a escassez de clero. Mas é uma excelente forma de promover o dinamismo missionário característico da Igreja.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

As questões que inquietam os jovens


Leão XIV encontrou-se com mais de um milhão de jovens em Tor Vergata, Roma, no domingo passado. Foi a maior multidão a que teve de se dirigir até agora. Tendo este encontro decorrido no âmbito do Jubileu da Esperança, o Papa acolheu os anseios próprios da juventude e desafiou-os a contagiarem com a sua fé todos aqueles com quem se cruzarem na vida.

O Papa durante a homilia começou por falar em italiano, depois passou pelo espanhol, pelo inglês, e, para terminar, falou novamente em italiano. São as três línguas que domina. O inglês é a sua língua materna. Porque passou vinte anos no Perú, fala bem o espanhol. Nos últimos anos tem vivido em Itália, o que o levou a desenvolver o italiano.

Abordou as aspirações dos jovens a “algo mais” em italiano: “Sentimos uma sede tão grande e ardente que nenhuma bebida deste mundo pode saciar”. Já em espanhol recordou as palavras do Papa Francisco em Lisboa, na Jornada Mundial da Juventude: “Não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro”.

Foi em inglês, porém, que Leão XIV identificou claramente as questões que traduzem a busca de verdade que habita o coração dos jovens: “O que é a verdadeira felicidade? Qual é o verdadeiro sentido da vida? O que nos pode libertar de sermos capturados pela falta de sentido, pelo tédio e pela mediocridade?”

A Igreja tem como primordial missão levar as pessoas a encontrarem-se com Jesus Cristo, para nele descobrirem respostas para as questões que as habitam. Aqueles que vão trilhando esse caminho encontram, naturalmente, formas de dar testemunho da sua experiência, contagiando outros e desafiando-os a fazerem essa descoberta. Se os jovens não descobrem na Igreja resposta para as suas inquietações, é porque nela não encontram testemunhos credíveis para tal.