quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Francisco elogia o bom jornalismo

O Papa Francisco agradeceu aos jornalistas o “trabalho que realizam informando leitores, ouvintes e espectadores sobre a atividade da Santa Sé”. Fê-lo, esta segunda-feira, num encontro com os membros da Associação Internacional de Jornalistas Credenciados junto do Vaticano.

“Ser jornalista é uma vocação”, disse o Papa. Aqueles que se dedicam a informar são chamados a “conhecer e contar” e a “cultivar um amor incondicional pela verdade”. Em relação ao tratamento que é dado à atualidade religiosa, o Papa expressou a sua gratidão pela “delicadeza” e o “respeito” com que tantas vezes tratam os escândalos que envolvem a Igreja.

O Papa agradeceu aos jornalistas o esforço de desenvolverem um “olhar que sabe ver além das aparências”: não se deixarem arrastar pela “superficialidade dos estereótipos”, nem contagiar pelas “fórmulas pré-confecionadas da informação-espetáculo”. Perante 150 jornalistas, o Papa reconheceu que um trabalho jornalístico sério e aprofundado faz tanto bem ao “Povo de Deus” como à própria Igreja, a qual “tem um longo caminho a percorrer para comunicar melhor”.

Desafiou os profissionais da informação a resistirem à tentação “da comunicação de massas a manipular a imagem da Igreja”, citando o vaticanista (especialista em assuntos da Santa Sé) Luigi Accattoli, que há poucos dias completou oitenta anos e acompanhou os Papas em muitas viagens.

Não é com discursos envinagrados contra os jornalistas que se consegue uma melhor informação religiosa. Pelo contrário, é necessário cuidar a forma como se comunica, clarificando os conteúdos. Deve reconhecer-se e elogiar o que é bem feito, mesmo que contenha críticas. O acesso à informação deve ser facilitado, mostrando disponibilidade para colaborar no aprofundamento dos assuntos religiosos. Com dois sentidos, a comunicação flui melhor.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Roma é uma “terra de missão”

Papa Francisco reuniu com o clero de Roma
Foto retirada daqui
O coração da cristandade, a cidade de Roma, é hoje uma “terra de missão”. Esta é a constatação que o Papa Francisco assumiu perante o clero romano na manhã do último sábado. Pouco se sabe desse encontro, pois foi fechado à comunicação social, apenas o que noticiou a diocese de Roma no seu sítio oficial. Este refere o encontro do Papa com mais de oitocentos sacerdotes (diocesanos e religiosos) e diáconos permanentes ao serviço da diocese de Roma. Francisco “lançou um apelo à evangelização a toda a comunidade eclesial”.

Há quase 11 anos o Papa apresentou-se ao mundo como bispo de Roma. As suas preocupações com a Igreja universal, no entanto, deixam-lhe pouco tempo para a diocese para que foi eleito. Por isso tem um vigário-geral que o substitui na gestão corrente da diocese, o qual, neste momento, é o cardeal vigário Angelo De Donatis.

Porém, tanto quanto lhe permitem as responsabilidades inerentes à função de Papa, Francisco procura garantir algumas das suas responsabilidades como bispo de Roma. Nos últimos meses tem reunido com o clero e escutado as suas preocupações e anseios. Todos os encontros têm decorrido à porta fechada e longe dos média. Neste último encontro com o clero comprometeu-se a retomar as visitas às paróquias de Roma, que a pandemia interrompeu.

Já lá vão os tempos em que a Europa enviava missionários para todo o mundo. Hoje o catolicismo encolhe na Europa e desenvolve-se nos outros continentes. De acordo com as últimas estatísticas da Santa Sé, relativas a 2021, o número de católicos só diminuiu na Europa (-244.000). O aumento mais acentuado verificou-se na África (+8.312.000) e na América (+6.629.000), a que se segue a Ásia (+1.488.000) e a Oceânia (+55.000).

A Europa está a tornar-se numa verdadeira “terra de missão”. Por isso, precisa de ser novamente evangelizada.
 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Líderes que derrubam muros

O encontro de Paulo VI com o
Patriarca Ecumênico Atenágoras
Foto AP retirada daqui
Há 60 anos aconteceu, para muitos historiadores, um dos eventos religiosos mais importantes do século XX: a viagem de Paulo VI à Terra Santa, de 4 a 6 de janeiro de 1964. Na oração do Angelus no último sábado, o Papa Francisco recordou essa viagem e destacou o encontro de Paulo VI com o Patriarca Ecumênico Atenágoras – líder da Igreja Ortodoxa – “quebrando um muro de incomunicabilidade que manteve católicos e ortodoxos separados por séculos”.

Foi a primeira viagem internacional de Paulo VI e a primeira vez que um Papa viajou de avião. Deu início a uma das atividades mais relevantes de um Pontífice: as viagens. Paulo VI também ficou para a história como o primeiro Papa a visitar os cinco continentes.

Essa sua primeira viagem teve ainda o condão de reforçar na Igreja Católica o diálogo ecuménico e a promoção da unidade dos cristãos. O Concílio Vaticano II, que decorria quando Paulo VI visitou a Terra Santa, encarregou de refletir e de o definir como um dos dinamismos a indicar aos católicos.

Esta foi uma das quatro prioridades de Paulo VI para o Concílio. As outras eram uma melhor compreensão da Igreja Católica, a sua renovação e o diálogo com o mundo contemporâneo.

Estes dinamismos que Paulo VI procurou implementar no catolicismo são aqueles que o Papa Francisco agora procura recuperar com a insistência numa “Igreja em saída”.

Vivem-se tempos em que se promove o medo em relação aos que são de outra cultura, raça, igreja ou religião. Que são classificados como os “maus”, para arregimentar os “bons”, seja para ganhar eleições ou para estimular o terrorismo ou a guerra. Hoje, como nunca, são precisos líderes como Paulo VI, mais preocupados em lançar pontes do que em erguer muros. Capazes de promover o diálogo e a reconciliação entre aqueles que se habituaram a odiarem-se, porque a isso foram levados.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

A fisionomia feminina da Igreja


A Igreja celebra Maria, no primeiro dia do ano, como a Mãe de Deus. Esta invocação de Maria está implícita nos Evangelhos, por exemplo quando Maria visita a sua prima Isabel e esta exclama: “Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?” (Lc. 1, 43). Contudo, foram precisos quatro séculos para ser explicitada e definida dogmaticamente como tal pelo Concílio de Éfeso, em 431.

Desde os inícios do século VI, que a Igreja celebra a 1 de janeiro a solenidade de Santa Maria, Mãe da Igreja. A partir de 1968, Paulo VI declarou-o também o Dia Mundial da Paz.

Este ano, na homilia da celebração de 1 de janeiro, o Papa Francisco recordou a definição dogmática de Éfeso e assumiu que a Igreja precisa de “descobrir o seu próprio rosto feminino” e de “abrir espaço às mulheres e ser geradora através duma pastoral feita de cuidado e solicitude, paciência e coragem materna”.

Desde que está ao leme da barca de Pedro, este Papa tem feito muito para promover a mulher na Igreja. Com ele, elas têm vindo a desempenhar cargos que nunca tinham sido confiados às mulheres. Pela primeira vez tiveram voz num Sínodo dos Bispos – e direito a votar.

É certo que ainda há muito caminho a fazer para que seja reconhecida a dignidade da mulher na Igreja e estas possam assumir encargos que continuam reservados aos homens. O caminho faz-se caminhando. É a convicção de Francisco. Maria é a sua inspiração e guia.

Entretanto, o Papa empenha-se em que a Igreja redescubra a sua fisionomia mariana. Maria não é só a Mãe de Deus: é também a Mãe da Igreja, como a definiu Paulo VI em 1964.

Da mesma forma que se identificam nos filhos parecenças com as mães, também na Igreja se devem identificar traços marianos, tais como o acolhimento da Palavra de Deus, a disponibilidade para fazer a sua vontade ou a atenção aos que mais precisam.