sexta-feira, 22 de julho de 2016

A porta-voz do Papa

O Papa Francisco já reconheceu por diversas vezes que a mulher é marginalizada na Igreja e tem-se empenhado em corrigir esta situação. Por isso, tem introduzido algumas inovações, de carácter simbólico, em tradições multiseculares. Foi o caso de admitir mulheres no lava-pés ou a promoção a festa da celebração litúrgica de S. Maria Madalena, que acontece hoje pela primeira vez.

Na Igreja, as celebrações litúrgicas podem ter quatro categorias. As datas com menor relevância são celebradas como memória facultativa – o celebrante pode mencioná-las ou não; as que têm uma relevância maior são memória obrigatória para todo o mundo. Há ainda a classificação de “festa”, para as celebrações mais importantes, e de “solenidade”, para as datas mais significativas para os católicos, como celebrar S. Pedro e S. Paulo, o Corpo de Deus ou o Natal. S. Maria Madalena foi elevada de memória obrigatória à categoria de festa.

Recentemente, o Papa tomou outra decisão que promove a mulher no seio da Igreja. Para substituir o diretor da Sala da Imprensa da Santa Sé, o P. Federico Lombardi, escolheu dois jornalistas: o norte-americano Greg Burke, como diretor, e a espanhola Paloma García Ovejero, como vice-diretora. Pela primeira vez, uma mulher vai desempenhar as funções de porta-voz do Papa.

Esta nomeação, para além de trazer uma mulher para a primeira linha da comunicação institucional da Igreja, revela a preocupação da Santa Sé em se expressar, não só em italiano, mas também nas duas principais línguas do catolicismo: o inglês (a língua franca do mundo contemporâneo) e o espanhol (a língua mais falada pelos católicos no mundo).

Nesta geometria linguística ficou de fora o português. Uma pena, porque o país com mais católicos é o Brasil (125 milhões) e o país mais católico do mundo é Timor-Leste (97% da população) – e ambos falam português. Esperemos que o Papa corrija esta falta.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 22/07/2016)

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