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O Papa Francisco não desconhece que o “dinheiro sujo”
proveniente de atividades ilícitas, ou manchado pela exploração dos
trabalhadores, é introduzido na Igreja e, por vezes, aceite em diversas
organizações católicas. Porventura, também em Portugal. Muitas das vezes sem
que os responsáveis pelas comunidades disso se apercebam. E (espera-se...)
habitualmente sem o seu consentimento ou a sua colaboração.
Na sua primeira entrevista ele confidenciou que, quando
era arcebispo de Buenos Aires, determinadas pessoas chegaram a propor-lhe doar
uma avultada quantia para uma obra de beneficência a troco de um recibo de
montante superior. Nessas circunstâncias, dada a importância do que pretendia
levar por diante e do bem que isso significaria para as pessoas, podia ter sido
grande a tentação de pactuar com esse esquema. Mas o cardeal Bergoglio soube
resistir-lhe e recusou a proposta.
Isso dever-se-á ao facto de ele ser um “homem resolvido”,
como alguém dizia há dias. Pode, por isso, ter palavras duras para quem alinha
em esquemas ou tem comportamentos menos corretos na relação da Igreja com o
dinheiro.
Na última audiência o Papa apontou o dedo aos que, para
sossegarem a sua consciência pesada, fazem consideráveis doações à Igreja.
Dinheiro manchado pelo “sangue de tanta gente explorada, maltratada,
escravizada pelo trabalho mal pago”. A esses ele diz: “O Povo de Deus –quer
dizer, a Igreja – não precisa do dinheiro sujo, precisa de corações abertos à
misericórdia de Deus”. Ou seja, precisa de homens e de mulheres que aproveitem
este Ano Jubilar da Misericórdia, se arrependam do seu proceder, acolham o
perdão de Deus pelos seus atos e se aproximem do altar de “mãos purificadas,
evitando o mal e praticando o bem e a justiça”.
Oxalá que a Igreja, também entre nós, não se deixe tentar pelo dinheiro
conspurcado com o sangue e o suor dos explorados.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 04/03/2016)
Grandes verdades!
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