Papa Francisco no Parlamento Europeu Foto retirada daqui |
O Papa falou ao Parlamento Europeu e deixou uma “mensagem de esperança”. Ele tem “confiança de que as dificuldades podem
revelar-se, fortemente, promotoras de unidade, para vencer todos os medos que a
Europa – juntamente com o mundo inteiro – está a atravessar”. Dirigiu-se aos
deputados europeus com os olhos postos na Turquia – e a pessoa humana foi o
tema central do seu discurso.
A alusão à Turquia – o país que começou hoje a visitar –
é evidente quando propõe o diálogo com os países que pretendem entrar na União
Europeia, nomeadamente os países da “área balcânica” e os que confinam com ela.
Referiu-se em particular aos que “assomam ao Mediterrâneo, muitos dos quais
sofrem por causa de conflitos internos e pela pressão do fundamentalismo
religioso e do terrorismo”.
No final deixou um apelo à construção de
uma Europa “não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana, dos
valores inalienáveis”. Uma Europa “que abraça com coragem o seu passado e olha
com confiança o seu futuro, para viver plenamente e com esperança o seu
presente”.
Ao longo de todo o seu discurso sublinhou
por diversas vezes “a centralidade da pessoa humana”. Recordou aos
parlamentares que “no centro deste ambicioso projeto político, estava a
confiança no homem, não tanto como cidadão ou como sujeito económico, mas no
homem como pessoa dotada de uma dignidade transcendente”. E alertou para o
perigo “de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se
fosse um bem de consumo, de modo que a vida, quando deixa de ser funcional para
esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes, dos
doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças
mortas antes de nascer”.
Ainda bem que vozes como a do Papa Francisco
se elevam para reclamar a “centralidade da promoção da dignidade humana” e dar
algum ânimo a uma União Europeia órfã de líderes com a dimensão dos seus pais
fundadores. Agora, entregue a lideranças subservientes com o “poder financeiro
ao serviço de impérios desconhecidos”, a que o Papa se referiu, parece mais
empenhada com o controlo do deficit do que em resolver os graves problemas
sociais dos europeus. É isto que tem de mudar.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 28/11/2014)