sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Basílica na aldeia

Foto de Manuel Roberto retirada daqui
A igreja do Santo Cristo em Outeiro, uma aldeia perto de Bragança, foi promovida pelo Papa Francisco a Basílica Menor.

Outeiro já foi Vila e sede de concelho entre 1514 e 1853. Durante esse período foi construída a igreja de Santo Cristo para albergar uma imagem do crucificado que se encontrava numa pequena capela e que terá suado sangue a 26 de Abril de 1698. Nesse mesmo ano foi lançada a primeira pedra de um grande templo, o qual foi inaugurado a 3 de Maio de 1713. Em 1927 foi classificado como Monumento Nacional.

Apenas quatro basílicas, todas em Roma, são classificadas como Maiores. São elas a Basílica de S. João de Latrão (sede da diocese de Roma), a de S. Pedro no Vaticano, a de S. Maria Maior e a de S. Paulo Fora-de-Muros. Todas as outras, como é o caso da Basílica da Estrela em Lisboa, a Real em Castro Verde ou a do Rosário em Fátima, são Menores. E é a primeira vez que uma igreja localizada numa aldeia portuguesa é elevada à dignidade basilical. O que só foi possível, graças ao empenhamento do atual bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, que soube dar continuidade a um desejo antigo e obter a sua aprovação em apenas um ano.

Quando comemos o pão que chega à nossa mesa raramente lembramos as mãos que desbravaram a terra. Por isso é bom lembrar que quem deitou a semente para que o título de Basílica fosse atribuído à igreja do Santo Cristo foi D. António Rafael, há mais de trinta anos. Na celebração do Ano Santo da Redenção, em 1983, durante a peregrinação diocesana àquele santuário, o então bispo de Bragança-Miranda, realçou a grandiosidade do templo que “merecia ser Basílica”.

O cónego João Gomes, pároco de Outeiro, não deixou cair no esquecimento a ideia de D. António e recuperou-a por ocasião da celebração dos trezentos anos da inauguração da, agora, Basílica Menor. Para além de não deixar apagar “a torcida que ainda fumegava”, soube soprá-la no momento certo para que a ideia pudesse acender-se no tempo oportuno e tornar-se uma realidade.

Agora que despontou a primeira folha, é preciso continuar a cuidar da planta para que ela dê frutos. A Basílica do Santo Cristo é razão bastante para colocar Outeiro no mapa religioso, cultural e turístico do país.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 14/11/2014)

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