Foto de Alessandra Tarantino, retirada do The Washington Times |
A divulgação da lista dos escolhidos do Papa
Francisco para receberem o título de cardeal, no próximo dia 22 de Fevereiro,
provocou um verdadeiro anticiclone na Igreja. Teve o seu epicentro na Praça de
S. Pedro, durante o Angelus do passado domingo, com ventos de renovação que
varreram todo o mundo e abalaram os alicerces de vários edifícios fundados em
lógicas carreirísticas. O sol brilhou e aqueceu o coração dos que vivem entre a
Primavera e o Verão de uma Igreja que se rejuvenesce e desenvolve. Mas para os
que veem cair as folhas de um passado considerado glorioso, e atravessam o
Inverno do seu próprio anquilosamento, ainda que brilhe o sol, este novo vento traz
frio, gripe e constipações.
Foi um anticiclone que deixou, apenas, quatro
barretes cardinalícios na cabeça dos colaboradores mais próximos do Papa. Para
além desses, só dois ficaram na Europa. Outros foram enviados para lugares mais
ou menos recônditos e inesperados. Paragens que estavam habituados a recebê-los
viram defraudadas as suas expetativas.
De entre as maiores surpresas destaca-se a
nomeação do arcebispo de Perugia e a não inclusão dos titulares de dioceses
como Veneza ou Turim, habituadas a serem distinguidas com essa dignidade.
Transpondo para o contexto português o significado da escolha daquela diocese
italiana, seria como se o Papa fizesse cardeal o arcebispo de Braga ou de Évora
em detrimento do de Lisboa.
O Papa Francisco surpreendeu, também, ao incluir
na lista dos cardeais o nome de D. Chibly Langlois, bispo da pequena cidade de
Les Cayes, no Haiti. Para além de selecionar o bispo de um país periférico no
contexto eclesial e mundial, que nunca teve um cardeal, vai buscá-lo à
periferia da periferia haitiana. Seria como em Portugal escolher o bispo de Bragança ou dos Açores, as
dioceses mais distantes da capital, conforme se considere o continente ou o
todo nacional.
A lista dos purpurados de Bergoglio, sendo
surpreendente, é todavia congruente com a sua atenção às periferias, a qual não
se tem cansado de referir nas mais variadas circunstâncias. Verifica-se, uma
vez mais, uma profunda coerência entre as palavras do atual Papa e a forma
concreta como governa a Igreja.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 17/01/2014)
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