O Papa com o rabino argentino Abraham Skorka Foto retirada do sítio Religión Digital |
A perseguição aos judeus e aos fiéis de outras
religiões são comportamentos que mancharam os vinte séculos de história da
Igreja Católica. Felizmente, já estamos longe dos tempos em que na Sexta-feira
Santa se rezava pelos pérfidos judeus. João XXIII suprimiu o adjetivo em 1959.
Desde então o diálogo inter-religioso tem-se vindo a intensificar e teve o seu
momento alto no encontro promovido pelo Papa João Paulo II em Assis, a 27 de
Outubro de 1986.
O Concílio Vaticano II reconheceu os erros do
passado e considerou deploráveis todas as perseguições e manifestações de anti-semitismo, mesmo as promovidas pela Igreja (Cf. Declaração “Nostra aetate”, nº 4). O
Papa João
Paulo II, no dia 12 de março de 2000, pediu perdão por todos os pecados
cometidos em nome da Igreja, ao longo de dois mil anos, nomeadamente a
perseguição aos judeus.
Emmanuel Levinas, conhecido filósofo judeu de
origem lituana que se autointitulava “um judeu católico”, em várias obras
refletiu sobre a necessidade de entendimento entre judeus e católicos. “Mas
mantendo a diferença essencial entre ambas religiões”, referiu Julia Urabayen, uma
estudiosa deste filósofo central da pós-modernidade, numa entrevista à agência
Zenit.
O livro “Sobre o Céu e a Terra” – fruto da amizade
e das conversas entre o cardeal Bergoglio e o rabino Skorka – demonstra como o
judaísmo e o catolicismo podem dialogar, numa comunhão de ideais que não põe em
causa as suas especificidades. Neste ambiente, e após um longo caminho de
aproximação percorrido, são de louvar todas as iniciativas que ajudem ao
diálogo inter-religioso e de estranhar todas as que o dificultam.
Entre as primeiras situa-se a do Pe. Jardim
Moreira, que perante um achado arquitetónico testemunho da presença judaica no
Porto, imediatamente pensou na criação de um Centro da Memória Judaica, em
torno do qual se promovesse a aproximação judaico-católica. Os rabinos das
sinagogas de Lisboa e Belmonte aderiram de bom grado. Mas os judeus portuenses acharam
“ignominioso” o projeto, pelo facto de ser liderado por um padre católico!
Seria bom que repensassem a sua posição. E que se
decidissem a apoiar uma iniciativa que pode contribuir para sarar velhas
feridas em vez de as reabrir.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 10/01/2014)
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