segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Estima judaico-católica

O Papa com o rabino argentino Abraham Skorka
Foto retirada do sítio Religión Digital
A perseguição aos judeus e aos fiéis de outras religiões são comportamentos que mancharam os vinte séculos de história da Igreja Católica. Felizmente, já estamos longe dos tempos em que na Sexta-feira Santa se rezava pelos pérfidos judeus. João XXIII suprimiu o adjetivo em 1959. Desde então o diálogo inter-religioso tem-se vindo a intensificar e teve o seu momento alto no encontro promovido pelo Papa João Paulo II em Assis, a 27 de Outubro de 1986.

O Concílio Vaticano II reconheceu os erros do passado e considerou deploráveis todas as perseguições e manifestações de anti-semitismo, mesmo as promovidas pela Igreja (Cf. Declaração “Nostra aetate”, nº 4). O Papa João Paulo II, no dia 12 de março de 2000, pediu perdão por todos os pecados cometidos em nome da Igreja, ao longo de dois mil anos, nomeadamente a perseguição aos judeus.

Emmanuel Levinas, conhecido filósofo judeu de origem lituana que se autointitulava “um judeu católico”, em várias obras refletiu sobre a necessidade de entendimento entre judeus e católicos. “Mas mantendo a diferença essencial entre ambas religiões”, referiu Julia Urabayen, uma estudiosa deste filósofo central da pós-modernidade, numa entrevista à agência Zenit.

O livro “Sobre o Céu e a Terra” – fruto da amizade e das conversas entre o cardeal Bergoglio e o rabino Skorka – demonstra como o judaísmo e o catolicismo podem dialogar, numa comunhão de ideais que não põe em causa as suas especificidades. Neste ambiente, e após um longo caminho de aproximação percorrido, são de louvar todas as iniciativas que ajudem ao diálogo inter-religioso e de estranhar todas as que o dificultam.

Entre as primeiras situa-se a do Pe. Jardim Moreira, que perante um achado arquitetónico testemunho da presença judaica no Porto, imediatamente pensou na criação de um Centro da Memória Judaica, em torno do qual se promovesse a aproximação judaico-católica. Os rabinos das sinagogas de Lisboa e Belmonte aderiram de bom grado. Mas os judeus portuenses acharam “ignominioso” o projeto, pelo facto de ser liderado por um padre católico!

Seria bom que repensassem a sua posição. E que se decidissem a apoiar uma iniciativa que pode contribuir para sarar velhas feridas em vez de as reabrir.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 10/01/2014)

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