sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O inquérito Papal

O Papa divulgou, na semana passada, o desejo de consultar toda a Igreja sobre a problemática da família. Esta iniciativa foi considerada por vários média como inédita e sem precedentes. Contudo, é um procedimento habitual na preparação de qualquer Sínodo dos Bispos.

O Sínodo dos Bispos, tal como se desenvolve na atualidade, é um organismo instituído pelo Papa Paulo VI a 15 de Setembro de 1965, quando ainda decorria o Concílio Vaticano II. Surge como resposta aos anseios dos padres conciliares de uma maior colegialidade episcopal, e de uma maior abertura da Igreja à participação de todos, que o atual Papa quer intensificar. Tem como principal missão ajudar o “Romano Pontífice” a aclarar e a consolidar as questões de fé, dos costumes e da disciplina, bem como a relação da Igreja com o mundo, como define o Código de Direito Canónico, no cân. 342.

Todos os Sínodos têm sido precedidos por uma consulta aos fiéis de todo o mundo. Todavia, nunca um documento preparatório teve tanta divulgação mediática como este último. Não foi só por ter sido anunciado pelo Papa, mas, sobretudo, pela temática que é colocada à reflexão de todos. São assuntos polémicos, dentro e fora da Igreja, dos quais os média têm destacado os seguintes: as uniões de facto, os divorciados recasados, as uniões homossexuais, a adoção de crianças por estes últimos.

Para realizar a auscultação das pessoas têm-se seguido diferentes metodologias. Nos Estados Unidos, os bispos confiaram aos párocos a responsabilidade de recolher as respostas dos seus paroquianos e elaborarem uma síntese de todas as opiniões manifestadas. No Reino Unido o inquérito foi disponibilizado na Internet e pode ser respondido de forma anónima, competindo à Conferência Episcopal retirar as conclusões a enviar para Roma. No nosso país, ainda não foi definida a forma como os fiéis vão ser ouvidos.

Como resultado desta auscultação e da reflexão dos bispos durante o Sínodo, será publicada uma Exortação Apostólica, assinada pelo Papa. Não se preveem mudanças na doutrina católica sobre o matrimónio e a família, mas é razoavelmente seguro que a forma da Igreja lidar com estas questões não será a mesma depois deste Sínodo.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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