sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Santos sem cemitérios

Hoje a Igreja Católica celebra a Solenidade de Todos os Santos. Num dia recorda todos os homens e mulheres que vivem para sempre junto de Deus. Uns têm sido declarados santos, ou seja, canonizados, ao longo destes vinte séculos de história, e são festejados ao longo do ano. Outros são-no de facto, apesar de ainda não terem sido reconhecidos, e são lembrados no dia de hoje.

Apesar de este ser o verdadeiro sentido da solenidade, que hoje se comemora, nos últimos anos, por ser feriado, aproveitava-se esta data para fazer a visita aos cemitérios. Antecipava-se assim para o dia anterior o que deveria acontecer no seguinte, o dia dos Fiéis Defuntos. Com o passar dos anos, generalizou-se a ideia de que este era o dia próprio para ir aos cemitérios. Transformaram-se, assim, os Santos em Finados.

Por isso, estranhou-se que a Igreja tivesse aceitado suprimir este em vez de outro feriado religioso, como por exemplo o 15 de Agosto. Esta teria sido provavelmente uma melhor opção. A maioria dos trabalhadores, devido ao calendário letivo, tem de marcar as suas férias para esse mês, pelo que a supressão do feriado não iria afetar as inúmeras festas que acontecem nessa data, em todo o país – uma das razões invocadas para o manter. Mas não foi esta a opção seguida, diz-se que por pressão da Madeira e do seu presidente regional.

Este ano, os Fiéis são a um sábado, pelo que muitos poderão visitar o cemitério. Neste sentido, é uma oportunidade para a Igreja libertar os Santos da recordação dos defuntos e fazer, no dia que lhe pertence, as orações de sufrágio, nos cemitérios. No próximo ano ainda se poderá desenrolar esse ritual no dia certo, pois será um domingo. Nos anos seguintes, terá de se encontrar a data mais propícia, sábado ou domingo, para fazer essa homenagem aos entes queridos. Dificilmente voltará a ser nos Santos, pelo menos, enquanto se mantiver a supressão do feriado.

Duvida-se, valha a verdade, dos benefícios que possam advir para a economia do país da supressão de um feriado. Mas, pelo menos, a Igreja Católica ganhou com a purificação do dia de Todos os Santos do contágio dos sentimentos próprios do dia de Fiéis Defuntos.

(Texto publicado no Correio da Manhã)

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