Começa a ficar claro que Leão XIV é um Papa desconcertante. Tanto dá sinais de acolhimento de posições classificadas como conservadoras, como se coloca ao lado daqueles que são rotulados como progressistas.
Na semana passada os tradicionalistas rejubilaram com a notícia, ainda não confirmada, de que o Papa Leão terá autorizado o cardeal Burke a celebrar a missa tridentina em latim na Basílica de S. Pedro, no próximo mês de outubro, algo que o seu antecessor não permitia desde 2022.
Este domingo, porém, o Papa presidiu a uma celebração em que se recordaram os mártires do século XXI. Destacou o exemplo de três, dos 1600 identificados pela “Comissão para os Novos Mártires” instituída por Francisco em 2023. A primeira referência foi para a “força evangélica da Irmã Dorothy Stang, empenhada na causa dos sem-terra na Amazónia”, assassinada em 2005 em Anapu, no Brasil, por enfrentar os latifundiários e madeireiros que estão a desmatar a floresta amazónica.
Em sua homenagem, na igreja de S. Luzia em Anapu, foi pintado um painel que serve de fundo ao altar. Ao centro aparece crucificado um trabalhador sem-terra, ladeado pela Ir. Dorothy e pelo padre Josimo, também assassinado em 1986 no Maranhão. Vinte anos depois do assassinato da Ir. Dorothy, este painel foi tapado porque incomoda aqueles que não se reveem na sua luta e que agora controlam essa comunidade.
Ao destacar o exemplo da Ir. Dorothy o Pontífice não terá agradado aos que preferem colocar-se ao lado dos poderosos, em vez de seguirem a opção preferencial pelos mais pobres, como propõe a Doutrina Social da Igreja.
Aquilo que vai transparecendo da atuação de Leão XIV é a sua preocupação em salvaguardar a unidade da Igreja. Amanhã sai a sua primeira entrevista. Esta poderá esclarecer, ou ainda não, qual é o rumo que o Papa pretende tomar.
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