quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Dos confins do mundo ao centro da Europa

Logotipos e lemas da viagem do Papa ao Luxemburgo e à Bélgica
Foto retirada daqui
As periferias ocupam um lugar central no discurso e nas preocupações do Papa Francisco. A recente viagem ao Extremo Oriente e à Oceânia demonstrou esta atenção às zonas mais periféricas da Igreja Católica. Amanhã inicia a visita ao Luxemburgo e à Bélgica. Países bem próximos do Vaticano, no centro de uma Europa em que a população cada vez mais se distancia da Igreja Católica. Não é das periferias geográficas, mas das existenciais, que o Papa agora se faz próximo

Apesar das dificuldades de locomoção e da gripe que o obrigou a desmarcar todos os compromissos na manhã de segunda-feira, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, apressou-se a garantir que o Papa manterá a sua visita “ao coração da Europa”.

A visita ao Luxemburgo tem como lema “Para servir”. É interessante que, no país onde se localiza a “sede de diversas instituições europeias, especialmente de natureza financeira”, se sublinhe o serviço ao outro, quando aí se costuma procurar o lucro.

Na Bélgica, o lema desta viagem apostólica é “En route avec Espérance” (que se pode traduzir por “A caminho com esperança”). De acordo com Matteo Bruni, a paz será o tema central dos discursos do Papa. Num mundo em guerra, quando a Europa corre o sério risco de ser arrastada para um conflito armado, é bem-vinda uma mensagem de paz e de esperança.

Para além deste tema, o Papa abordará questões como a emergência climática e as migrações. O tema dos abusos sexuais também será abordado pelo Papa. A Santa Sé não confirmou se irá haver um encontro com as vítimas daquele país, mas é natural que tal aconteça.

Os cardeais foram buscar Bergoglio ao fim do mundo para o fazer Papa. Neste mês de Setembro, ele viajou a outros confins e agora regressa ao centro da Europa. Sempre atento e próximo das “periferias geográficas e existenciais”.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Francisco, Sumo Pontífice das religiões

Viagem do Papa à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura
Imagem retirada daqui
O Papa Francisco foi ao outro lado do mundo contactar com diferentes realidades socias, culturais e religiosas. Terminou o seu périplo pela Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura no dia 13. A sua mais longa viagem – e a que o levou mais longe.

Do ponto de vista religioso, o Papa iniciou a visita pelo país com mais muçulmanos do mundo, a Indonésia. Passou pela Papua-Nova Guiné, em que mais de dois terços da população se declara cristã, a maioria da qual católica.

Rumou então para o país com a maior percentagem de católicos do mundo, Timor-Leste. A própria Constituição reconhece a importância “da Igreja Católica no processo de libertação nacional”, apesar de consagrar a liberdade religiosa e a separação entre a Igreja e o Estado.

Francisco terminou a sua viagem em Singapura, território onde um terço da população é budista e quase um quinto se declara cristã. Sensivelmente a mesma parcela declara não professar qualquer religião, seguindo-se os que se assumem muçulmanos, taoistas, hinduístas e de outras religiões. Singapura é considerado, por isso, o país do mundo com a maior diversidade religiosa, pois não há nenhuma que claramente se destaque.

Perante contextos religiosos tão diversos, o Papa procurou lançar pontes entre diferentes credos religiosos e sublinhar a beleza dessa diversidade. No maior país muçulmano, o Papa Francisco e o Grande Imã Nasaruddin Umar assinaram uma declaração conjunta em Jacarta, na mesquita de Istiqlal, a apelar à promoção da harmonia religiosa para o bem da humanidade. Em Singapura o Papa destacou o “mosaico de etnias, culturas e religiões que vivem em harmonia” naquele país.

Nesta sua última viagem Francisco foi verdadeiramente o Sumo Pontífice. Ou seja, o grande fazedor de pontes entre pessoas que se relacionam com Deus de formas variadas.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Mulheres a gerir os bens das dioceses

Carla Bretão, recém-nomeada ecónoma da Diocese de Angra.
Foto retirada daqui
D. Armando Domingues, bispo de Angra, nomeou a economista Carla Bretão ecónoma da diocese. É a primeira vez que uma mulher assume a responsabilidade de gerir os bens dessa diocese insular. Habitualmente este cargo é confiado a um padre, como acontece em 12 das vinte dioceses portuguesas. Nas restantes oito, quatro escolheram diáconos permanentes e leigos as outras quatro. A diocese de Angra, depois da Guarda, é a segunda no país a nomear para ecónoma uma mulher.

Carla Bretão conhece bem a situação financeira da diocese porque foi, nos últimos anos, a ecónoma-adjunta do cónego António Henrique Pereira, a quem sucede no cargo. A sua escolha tem em conta o trabalho até agora desempenhado e a convicção da diocese de que “leigos competentes nesta área poderem contribuir com o seu desempenho para o funcionamento da diocese”.

O Código de Direito Canónico, a lei fundamental da Igreja, para o desempenho da função de ecónomo, não exige que este seja um padre, mas sim que “seja verdadeiramente perito em assuntos económicos” (Can. 494 §1). Hoje gerir os bens da Igreja não é algo que possa ser feito com amadorismo, exigem-se boas competências técnicas. Sobretudo quando aqueles que contribuem para a sustentabilidade económica das dioceses são cada vez menos... É necessário, pois, encontrar novas fontes de financiamento e de rentabilização do património que se possui.

Hoje é mais fácil encontrar essas competências entre os diáconos permanentes, ou os leigos, do que entre os padres de uma diocese. Não é de estranhar, por isso, que se acentue a tendência que se tem verificado recentemente de serem eles, e sobretudo elas, a assumirem as rédeas da administração dos bens diocesanos. A verdade é que estão mais bem preparados do que o clero para superar a fragilidade económica que se verifica em algumas das dioceses.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Igreja viva, jovem, alegre, solidária

O Papa Francisco está nos antípodas da Europa, tanto geográfica como eclesialmente. Saiu do Vaticano a 2 de setembro em direção à Indonésia, passará pela Papua-Nova Guiné e por Timor-Leste. Termina a visita em Singapura, de onde regressará no próximo dia 13. Será a sua viagem mais longa, por dois continentes: a Ásia e a Oceânia.


As comunidades que o Papa vai visitar contrastam fortemente, em muitos aspetos, com a realidade eclesiástica europeia e ocidental. Uns dias antes da partida de Francisco foi divulgado um breve documentário sobre religiosas que desenvolvem a sua atividade na parte indonésia da ilha do Bornéu: são uma comunidade de Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida, muitas oriundas do grupo étnico Dayak, que habita na floresta tropical daquela parte da ilha.


O documentário foi editado por Marianna Beltrami (inglesa) e Sebastiano Rossitto (italiano) a que deram o título “As Irmãs Dayak”. Acompanharam as religiosas nas suas atividades quotidianas e constataram no documentário que “as irmãs não são só guardiãs da fé, mas também protetoras incansáveis da cultura indígena e da floresta”.


Os jovens documentaristas mergulharam na floresta tropical e revelam, em apenas 24 minutos, uma Igreja viva, jovem, alegre e solidária. O documentário permite aceder a um mundo “onde tudo permanece autêntico e onde a presença da Igreja apenas enriquece um tecido social já caracterizado por um forte sentido comunitário, sem impor outros modos de ser, mas entrelaçando-se com harmonia e paz entre si e com a Criação”, segundo o sítio Vatican News.


Esta viagem do Papa ao outro lado do mundo contribuirá para demonstrar que o catolicismo se pode desenvolver e que rejuvenesce noutras paragens. Este contraste com um catolicismo que envelhece e definha no Ocidente pode, e deve, ser muito inspirador.


(Texto publicado no Jornal de Notícias de 04/09/2024)