quarta-feira, 22 de maio de 2024

“Qual Igreja para o futuro?”


Quando se discute qual o futuro da Igreja, o teólogo franciscano Ettore Marangi, num artigo publicado há dias nas redes sociais, coloca a questão provocatória: “Qual Igreja para o futuro?”.

O artigo começa por traçar um cenário preocupante para a Igreja. Perde tempo em discussões como “uma simples bênção para os casais homossexuais”, sem perceber que se está a tornar “completamente irrelevante justamente no nível espiritual”, ainda que “mantenha algum peso ao nível temporal”. Uma Igreja que vive preocupada em rezar a Deus que envie pastores para o rebanho quando “quase todas as ovelhas desapareceram do redil”.

Para explicar como se chegou aqui explora a imagem da Igreja como Corpo de Cristo. Também S. Paulo utilizou esta imagem para afirmar “que a comunidade cristã é o corpo de Cristo, no qual todos os membros desempenham uma função específica e têm a mesma dignidade, da cabeça [os líderes] aos pés”. Quando a partir desta imagem se assumiu que a cabeça era Cristo, e que “quem age verdadeiramente na pessoa de Cristo – in persona Christi – só poderá ser o clero e não, por exemplo, um médico ou uma freira”, a Igreja clericalizou-se e o clero impôs-se como o cérebro desse corpo.

Chegámos a um ponto, considera Ettore Marangi, em que o cérebro não escuta o seu corpo e “não se dá conta das doenças” que o afetam. Apesar de estar “já desesperadamente anoréxico”, insiste em impor-lhe uma “dieta prejudicial”. Então, “a terapia só pode ser uma: é preciso salvar todos os membros e restaurar as suas funções”.

São vozes como a deste teólogo que desafiam os clérigos a não se enredarem em questiúnculas e a estarem mais atentos às doenças do corpo que são chamados a servir. São vozes como esta que estimulam os leigos a assumirem protagonismo nas suas comunidades. Sem leigos preponderantes, o corpo definha.

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