Apesar de muitos Papas terem sido santos, todos são criticáveis. Todos são humanos e erram. O Novo Testamento regista aliás aquela que será a primeira crítica a um Papa, S. Pedro, protagonizada por S. Paulo. O autor da Carta aos Gálatas refere que Pedro estava a “comportar-se de modo condenável” (Gál 2, 11).
Paulo discordou de Pedro quando este quis impor aos gentios costumes judaicos, como a circuncisão. Denunciou a sua incoerência por comportar-se de uma forma quando estava com eles e de outra quando estavam judeus presentes. Disse-o primeiro diretamente a Pedro e só depois o escreveu.
É assim que se deve proceder em Igreja. Mesmo sujeitando-se a represálias. Deve-se ter a frontalidade e a coragem de expressar uma opinião divergente a qualquer superior hierárquico. Nunca se deve recorrer à denúncia anónima por temer que a crítica não seja bem acolhida e que as “consequências possam ser desagradáveis” para o próprio. Foi assim, porém, que um anónimo se justificou num texto em que criticou opções do Papa Francisco sem dar a cara.
O Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada, na sua crónica no Observador, considerou esse texto “uma exaustiva radiografia do presente pontificado”, meritória “porque tanto refere aspetos positivos como negativos”. É uma conclusão curiosa, uma vez que o escrito anónimo discorre longamente sobre as críticas a Francisco, ao passo que se limita a elencar certos pontos positivos do seu pontificado
O Pe. Gonçalo reconhece que é um “sinal de cobardia” recorrer ao anonimato, mas desculpa-a por “neste caso ser, apenas, elementar prudência”. Pois, não é prudente, porque não é sério nem digno. E também não é evangélico, porque contraria os conselhos de correção fraterna dados por Jesus (Mt 18, 15-18).
A abjeção da mão escondida e a dignidade da cara descoberta não têm o mesmo valor.
Plenamente de acordo!
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