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É cada vez mais evidente que o Papa Francisco não se
acomoda a soluções fáceis para os problemas difíceis que a Igreja tem de
enfrentar. Nunca o fez quando esteve à frente dos jesuítas argentinos, nem
enquanto foi arcebispo de Buenos Aires. Também não o faz agora como Bispo de
Roma. É esta a convicção de Austen
Ivereigh, jornalista e autor do livro “Francisco, o Grande Reformador: Os
Caminhos de um Papa Radical”. Esteve em Lisboa, esta semana, para apresentar essa
obra que procura dar a conhecer a vida de Jorge Mario Bergoglio para melhor
compreender as reformas que está a introduzir na Igreja.
Contrariamente ao que acontece com o Papa,
muitas vezes tem-se receio em inovar. Ou não se enfrentam as questões ou se escolhem
as soluções mais cómodas, que normalmente não são as melhores. Um dos problemas
que se sente em algumas latitudes do catolicismo é a falta de clero. Para
resolver esse problema é mais fácil juntar paróquias que investir na promoção
de líderes da comunidade que possa vir a desempenhar essa missão, sejam eles celibatários
ou casados, homens ou mulheres.
“Isso é a coisa mais sem imaginação que
alguém pode fazer. Até mesmo alguns em cargos de responsabilidade em Roma acham
extraordinária esta solução” disse o Pe. Helmut Schüller, ex-vigário geral do
cardeal de Viena, Christoph Schönborn, numa entrevista ao jornal austríaco Salzburger
Nachrichten. “A Igreja Católica, ou consegue garantir sacerdotes às suas
comunidades, ou deverá começar a desenvolver novas formas de liderança
comunitária. Foi exatamente assim que as primeiras comunidades cristãs reagiram.
A liderança comunitária desenvolvia-se simultaneamente em diferentes formas”,
disse na mesma entrevista.
Em determinados contextos, como o da
América Latina, esta situação está a levar ao abandono da prática religiosa e a
levar os católicos a aderir a outras confissões religiosas. “Algumas comunidades
são visitadas por um padre duas ou três vezes por ano apenas. As comunidades
pentecostais, por outro lado, são muito pequenas e cada uma tem o seu pastor”,
denunciou o Pe. Schüller.
É urgente que os bispos de todo o mundo
saibam acompanhar o Papa e investir em soluções mais ousadas para os problemas
candentes das suas dioceses, como é o da escassez de clero.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 12/06/2015)
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