sexta-feira, 12 de junho de 2015

Reformar e ousar

Foto retirada daqui
É cada vez mais evidente que o Papa Francisco não se acomoda a soluções fáceis para os problemas difíceis que a Igreja tem de enfrentar. Nunca o fez quando esteve à frente dos jesuítas argentinos, nem enquanto foi arcebispo de Buenos Aires. Também não o faz agora como Bispo de Roma. É esta a convicção de Austen Ivereigh, jornalista e autor do livro “Francisco, o Grande Reformador: Os Caminhos de um Papa Radical”. Esteve em Lisboa, esta semana, para apresentar essa obra que procura dar a conhecer a vida de Jorge Mario Bergoglio para melhor compreender as reformas que está a introduzir na Igreja.

Contrariamente ao que acontece com o Papa, muitas vezes tem-se receio em inovar. Ou não se enfrentam as questões ou se escolhem as soluções mais cómodas, que normalmente não são as melhores. Um dos problemas que se sente em algumas latitudes do catolicismo é a falta de clero. Para resolver esse problema é mais fácil juntar paróquias que investir na promoção de líderes da comunidade que possa vir a desempenhar essa missão, sejam eles celibatários ou casados, homens ou mulheres.

“Isso é a coisa mais sem imaginação que alguém pode fazer. Até mesmo alguns em cargos de responsabilidade em Roma acham extraordinária esta solução” disse o Pe. Helmut Schüller, ex-vigário geral do cardeal de Viena, Christoph Schönborn, numa entrevista ao jornal austríaco Salzburger Nachrichten. “A Igreja Católica, ou consegue garantir sacerdotes às suas comunidades, ou deverá começar a desenvolver novas formas de liderança comunitária. Foi exatamente assim que as primeiras comunidades cristãs reagiram. A liderança comunitária desenvolvia-se simultaneamente em diferentes formas”, disse na mesma entrevista.

Em determinados contextos, como o da América Latina, esta situação está a levar ao abandono da prática religiosa e a levar os católicos a aderir a outras confissões religiosas. “Algumas comunidades são visitadas por um padre duas ou três vezes por ano apenas. As comunidades pentecostais, por outro lado, são muito pequenas e cada uma tem o seu pastor”, denunciou o Pe. Schüller.


É urgente que os bispos de todo o mundo saibam acompanhar o Papa e investir em soluções mais ousadas para os problemas candentes das suas dioceses, como é o da escassez de clero.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 12/06/2015)

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