terça-feira, 22 de abril de 2025

A Igreja precisa de um Paulo VII

Papa Francisco no dia da sua eleição (13/03/2013)
Com a morte do Papa Francisco é mais uma voz que se cala na defesa dos mais pobres, dos refugiados, daqueles que são estigmatizados mesmo dentro da Igreja. Cala-se uma voz que teve a coragem de denunciar uma “economia que mata” e a insanidade da guerra.

As últimas palavras proclamadas em seu nome na bênção Urbi et Orbi, domingo no Vaticano, acabariam por ser o último grito de condenação da “corrida generalizada ao armamento” e em defesa da paz: “Apelo a todos os que, no Mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as ‘armas’ da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!”

Em contra corrente com o que acontece no Mundo, o Papa denunciou que “não é possível haver paz onde não há liberdade religiosa, ou onde não há liberdade de pensamento nem de expressão, nem respeito pela opinião dos outros”.

Antes, num Mundo envolto em incertezas, o Papa convocou a Igreja para o Jubileu da Esperança. É esta precisamente a palavra que dá título à sua autobiografia recente, na qual ele, humildemente, se assume como “apenas um passo” na caminhada da Igreja.

Na verdade Francisco não foi apenas mais um passo – mas foi o primeiro passo na renovação da Igreja em muitos âmbitos. Nomeou cardeais, por exemplo, em países que nunca tinham sido agraciados com essa distinção. Confiou a mulheres cargos que tradicionalmente eram entregues a clérigos. O Sínodo dos Bispos deixou de ser exclusivamente clerical, em que se ratificavam as ideias do Papa, para se converter na oportunidade de escutar todos e acolher as suas sugestões para a reforma da Igreja.

Um dos maiores desafios que o Papa deixa à Igreja é, precisamente, dar continuidade à renovação sinodal em que ele tanto se empenhou até aos últimos dias de vida. Foi a partir do hospital, há pouco mais de um mês, que convocou uma assembleia de toda a Igreja Católica para outubro de 2028.

Espera-se que o seu sucessor incremente este dinamismo na Igreja. Da mesma forma que Paulo VI não deixou que se travasse o impulso reformista do Concílio Vaticano II convocado por João XXIII, a Igreja precisa agora de um “Paulo VII” que assuma e institucionalize a dinâmica sinodal introduzida por Francisco.

O Papa Francisco lançou processos em ordem a uma “Igreja em saída”, que reclama pastores com “cheiro a ovelhas”. Compete ao seu sucessor consolidá-los e torná-los irreversíveis.


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