quarta-feira, 10 de abril de 2024

Não basta manifestarem-se pela vida


Há cinco anos que a então Congregação para a Doutrina da Fé, agora Dicastério, decidiu redigir um texto sobre o caráter central e inviolável da dignidade humana. Anteontem, foi divulgada a redação final do documento “Dignitas infinita”.

Como habitualmente nos documentos da Igreja Católica, faz-se um percurso, ainda que breve, do caminho trilhado, desde as perspetivas bíblicas, passando pelo desenvolvimento do pensamento cristão sobre a dignidade humana, para definir como a Igreja hoje a propõe e defende. O documento cita o Papa Francisco e recorda que “a dignidade de cada ser humano tem um caráter intrínseco e vale desde o momento da sua conceção até a sua morte natural”.

É esta perspetiva da dignidade humana e esta conceção da vida que leva a Igreja a empenhar-se na defesa da vida e na condenação do aborto e da eutanásia. Como refere o documento, “não existem condições, na ausência das quais a vida humana deixe de ser digna e possa, por isso, ser suprimida”.

Não é de estranhar, portanto, que os católicos promovam “Caminhadas pela Vida”, como as que aconteceram, no passado sábado, em doze cidades portuguesas. Nem que os bispos apelem à participação dos fiéis nessas iniciativas.

Essas não são, porém, as únicas violações graves referidas pela “Dignitas infinita”. O documento revela que, no final de 2023, o Papa solicitou que fossem colocados em evidência afrontas à dignidade como “o drama da pobreza, a situação dos migrantes, as violências contra as mulheres, o tráfico de pessoas, a guerra e outras”. Foram incluídas.

Em sintonia com o Papa, os bispos devem também movimentar os seus diocesanos para combater estes ataques à dignidade humana. Discursos xenófobos e racistas, ou as manifestações contra imigrantes, são razões igualmente graves para mobilizar os fiéis na sua condenação.

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