Foto: L’Osservatore Romano |
Mães biológicas e espirituais de sacerdotes escreveram ao
Papa para pedir que “proteja o celibato”. O documento é assinado por 332
mulheres que, desta forma, respondem a uma outra missiva, a qual em maio teve
ampla divulgação mediática, de 26 mulheres que pediram a revisão dessa disciplina
eclesiástica.
Há quem pense que deixando casar os padres aumentariam as
vocações ao sacerdócio e que se resolveriam muitos dos problemas associados a
esta prática eclesiástica. Esta é uma forma simplista e errónea de pôr a
questão: não será a partir dessas teses que a Igreja concluirá pela mudança
dessa práxis.
De facto, as Igrejas que têm o celibato como opcional,
como é o caso das comunidades evangélicas, ou anglicanas, ou mesmo as católicas
de rito oriental, têm também falta de vocações sacerdotais. Se alguns problemas
se resolveriam, outros se levantariam. Talvez por isso, os bispos de rito
oriental – que sempre teve padres casados – são os que olham com maior
apreensão para a revisão da obrigatoriedade do celibato para os sacerdotes. Por
exemplo: uma infidelidade de um clérigo afetaria, não só as promessas sacerdotais,
mas também os compromissos assumidos com a sua esposa e a estabilidade da vida
conjugal.
Também não se evitariam os escândalos de pedofilia, como
erroneamente alguns pensam, uma vez que essas práticas são distúrbios que nada
têm a ver com o facto de as pessoas serem ou não casadas.
Não é por aí que deve passar a discussão de mudar, ou não,
dessa disciplina da Igreja. O que se pode vir a equacionar é a possibilidade
de, em determinadas realidades, virem a ser ordenados homens casados que já têm
uma vida familiar estável e desempenham um papel de liderança da comunidade. Em
muitos contextos, como os de missão, são eles que orientam a celebração
dominical na ausência do presbítero, que mantêm viva a fé dos crentes e a
alimentam. Por que razão não podem eles ser ordenados e garantirem a celebração
da eucaristia, a confissão e a unção dos enfermos a essas pessoas?
O cerne da questão não deve ser tanto o abandono do
celibato, mas a revitalização das comunidades eclesiais, de forma a que elas
próprias gerem os seus pastores. E estes poderão ser celibatários ou não.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 05/09/2014)
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