quarta-feira, 21 de maio de 2025

A nova missão da Igreja nas redes sociais

A Internet e, sobretudo, as redes sociais, pela quantidade de informação que difundem geram nas pessoas a sensação de que estão mais informadas do que no passado. O problema é que muita dessa informação é falsa, manipulada e disseminada sem qualquer escrutínio deontológico e de difícil controle legal. Acaba por ser consumida de forma acrítica e assumida como verdadeira, principalmente quando confirma algumas das sensações ou crenças dos que a procuram.

Quem domina estas plataformas, e os algoritmos que as gerem, controla também o que chega aos seus utilizadores, induzindo o que quer que eles vejam prioritariamente. Tem o poder de promover, não só a desinformação entre os que as frequentam, mas também a formatação do seu pensamento e a adesão às ideias que quer propagar.

Dada a atratividade dos discursos populistas, os quais se caracterizam por apresentar soluções fáceis para questões complexas e apontar bodes expiatórios para os problemas que afetam as sociedades, as redes sociais são também um meio propício para os divulgar e arregimentar seguidores e votantes.

Os conteúdos das redes não são sujeitos a qualquer tipo de controle sobre a sua veracidade. Verifica-se até que, quando as falsidades são denunciadas, as denúncias acabam por, ou não chegar a quem as recebeu, ou não serem acolhidas por aqueles que foram primeiro convencidos da sua veracidade.

O cardeal Robert Francis Prevost escolheu o nome de Leão porque – explicou ele aos cardeais que o elegeram – tal como Leão XIII defendeu a dignidade humana quando ela era posta em causa pela revolução industrial, ele quer agora fazer o mesmo no contexto de uma transição digital que está a ser ameaçada pela “ditadura do algoritmo”.

Leão XIV é o primeiro Papa que já utilizava as redes sociais quando era cardeal. Como é sabido, denunciou as falsidades ali colocadas, por exemplo, pelo vice-presidente norte-americano J. D. Vance. Fê-lo quando este as apresentava como decorrentes da sua fé católica a que recentemente se converteu.

Se voltar a intervir, agora o Papa terá de o fazer de forma mais diplomática do que quando era apenas o cardeal Prevost. Compete, por isso, aos católicos darem continuidade ao exemplo que o cardeal deu de uma presença mais incisiva. Faz hoje parte da missão da Igreja a pedagogia do bom uso das tecnologias, devendo empenhar-se na defesa da verdade e na denúncia perante os fiéis das falsidades que nelas circulam.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 21/05/2025)

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Cumprir Francisco com um traço de Leão

Foto oficial, assinatura e brasão de Leão XIV
Foto Vatican News
Um novo Papa enriquece a Igreja com a sua originalidade. Francisco significou uma lufada de ar fresco vinda do “fim do mundo” e promoveu uma série de reformas que carecem de ser consolidadas e até ampliadas. Espera-se que Leão XIV lhes dê continuidade, acrescentado o estilo próprio de alguém a quem se reconhecem algumas semelhanças com Francisco – e também diferenças evidentes.

Tal como Francisco, apesar de ser americano de nascimento, o cardeal Robert Francis Prevost é europeu e latino na sua ascendência. Não viveu sempre no sul do continente americano, como Jorge Mario Bergoglio, mas dedicou mais de vinte anos da sua atividade pastoral a uma região periférica do Perú.

O cardeal Bergoglio não tinha qualquer experiência da Cúria Romana, a não ser passagens esporádicas pelo Vaticano. Prevost foi, nos último dois anos, prefeito do Dicastério para os Bispos. Tem, por isso, um melhor conhecimento do funcionamento do governo central da Igreja e mais facilmente poderá identificar o que será preciso corrigir.

Ainda nem 48 horas tinham passado sobre a sua eleição e já Leão XIV estabelecia, numa reunião de três horas com os cardeais, duas linhas de ação para a reforma da Cúria: melhorar a comunicação institucional e promover uma melhor coordenação entre os diversos Dicastérios, com reuniões periódicas dos seus prefeitos. Uma espécie de “conselho de ministros”. Até aqui, os diversos órgãos de governo da Santa Sé funcionaram autonomamente com pouca coordenação ou partilha de informações entre si.

Desde a primeira hora, Leão XIV deixou claro que dará continuidade à renovação da Igreja em chave sinodal, introduzida por Francisco, porque a referiu explicitamente no seu primeiro discurso. Contudo, deu também sinais claros de que não a implementará do mesmo modo. Ainda faltam dados para perceber o novo rumo.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Escolher o continuador de Francisco

Inicia-se hoje o conclave para eleger o bispo de Roma que será o 267.º Papa da Igreja Católica. Os cardeais eleitores – com menos de 80 anos – oriundos de 70 países formam o colégio cardinalício com maior diversidade desde sempre. Estiveram representados 52 países em 2005 e 48 em 2013, pelo que é muito difícil prever quem será o próximo Papa.

As informações que vão chegando do Vaticano dizem que os cardeais estão empenhados em escolher alguém que dê continuidade às reformas introduzidas por Francisco e ao dinamismo sinodal por ele suscitado na vida da Igreja. Nas congregações gerais – as reuniões com todos os cardeais que antecedem o conclave – foi referido o desejo de muitos participantes que “o próximo Papa tenha um espírito profético, capaz de guiar uma Igreja que não se feche sobre si própria, que saiba sair e levar a luz a um Mundo sem esperança”, segundo um comunicado de imprensa da Santa Sé.

Procura-se um Papa que prossiga, em termos bergoglianos, a promoção de uma “Igreja em saída”. Bergoglio já dizia em Buenos Aires que preferia “uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Evangelii Gaudium, n.º 49).

Poderá acontecer que um cardeal claramente alinhado com Francisco não consiga obter os dois terços necessários de votos. Então os cardeais terão de encontrar alguém que, ainda que mais moderado, garanta a consolidação do caminho iniciado pelo antecessor.

Caso seja eleito alguém que procure travar os processos lançados por Francisco, isso significará um retrocesso no dinamismo que ele promoveu na Igreja. Nesse caso, os cardeais escolhidos por Bergoglio (108 dos 133 eleitores) estariam desalinhados com o pensamento de quem os nomeou. Tudo indica que tal não acontecerá.