O mundo precisa de vozes como a do Papa Francisco. Vozes proféticas que denunciem a insanidade da guerra, a mercantilização das relações internacionais e a subalternização da dignidade da pessoa humana ao lucro. Vozes que defendam o planeta sem resvalarem para o fundamentalismo ecológico. Vozes que defendam a justiça social e denunciem a discriminação, sem descambarem no wokismo. Vozes que digam a verdade, num mundo que é inquinado pelas “fake news”.
Contudo, como muito bem sabe o Papa, ninguém é eterno. Contudo, não somos efémeros. “Nós não somos nem eternos nem efémeros”, disse-o numa homilia em S. Marta no dia 1 de fevereiro de 2018. Um texto que vale a pena revisitar neste contexto da sua fragilidade física.
A morte encarrega-se de nos recordar que não somos eternos, embora por vezes nos esqueçamos dessa realidade e até desejamos que algumas pessoas o sejam. Esta contingência humana, segundo o Papa, deve levar-nos a questionar: “Que herança eu deixarei como testemunho de vida?”
É difícil de mensurar o legado que Francisco deixará à Igreja e ao mundo. São tantos os dinamismos que suscitou e, na verdade, vários ainda não se cumpriram.
Todos os homens e mulheres de boa vontade desejam que o Papa Francisco possa, por mais algum tempo, continuar a ser a voz que denuncia a corrida aos armamentos e a insensatez da guerra, os extremismos e os fundamentalismos, a cultura do descartável e a devastação do planeta. Os católicos rezam para que recupere a saúde e possa, ainda, consolidar alguns dos processos de renovação que promoveu na Igreja.
Quando ele partir, muitos rezarão para que, à semelhança do que aconteceu com João XXIII, surja um Papa que dê continuidade às reformas introduzidas por Francisco e ao Sínodo, como Paulo VI deu continuidade ao Concílio Vaticano II. Alguns, provavelmente, não...
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 26/02/2025)
Sem comentários:
Enviar um comentário