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O Papa Francisco veio a Fátima recordar
que “temos Mãe!”
Repetiu-o três vezes na homilia da missa
de ontem, que celebrou os cem anos das aparições. Uma mãe misericordiosa e
“bendita por ter acreditado”, não alguém que segura o “braço justiceiro de Deus
pronto a castigar”, ou uma “Santinha a quem se recorre para obter favores a
baixo preço”, como tinha esclarecido na noite anterior, depois da bênção das
velas e antes da oração do Rosário. Mais uma vez, o Papa preferiu sublinhar a
misericórdia e não o juízo ou a condenação.
Terminou a homilia a desafiar os fiéis a
não serem “uma esperança abortada”, mas a converterem-se, “sob a proteção de
Maria”, em “sentinelas da madrugada”. Exortou-os a saber “contemplar o
verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir
novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária,
acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”.
Com as suas palavras o Papa deu um
contributo extraordinário para ajudar os crentes a melhor entenderem o papel da
Virgem Maria nas suas vidas, bem como a forma como se devem relacionar com ela.
Não o fez com uma linguagem hermética e complicada, como tantas vezes acontece
em contextos eclesiais, mas com o recurso a uma linguagem que todos
compreendem, mesmo arriscando-se a escandalizar alguns que preferem as
conceções marianas que ele criticou.
Compete à Igreja, sobretudo a
portuguesa, dar agora continuidade ao percurso que o Papa iniciou na Cova da
Iria. Levar as pessoas a viverem uma espiritualidade mariana ajustada ao
Evangelho e, por isso, mais sadia. A Igreja deve tornar-se mais luminosa, com
uma pulsação mais jovem e um renovado ardor missionário. E – ponto muito
importante – não deve ter receio de empobrecer, desde que seja para se tornar
muito mais rica em caridade.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 13/05/2017)